Ciclistas de São Paulo aguardam mais ciclovias com conexões para as periferias

O ciclista André Pasqualini conta uma história pessoal que exemplifica um pouco as dificuldades sofridas pelos usuários das ciclovias e ciclofaixas dos bairros mais periféricos de São Paulo. “Anos atrás, depois que a gestão anterior da prefeitura anunciou a ciclovia da Eliseu de Almeida, Taboão da Serra fez uma ciclovia cortando a cidade, que seria uma continuação da Eliseu. Mas a obra de São Paulo atrasou tanto que a gestão atual da prefeitura de Taboão apagou a ciclovia [em 2013], bem agora que a de SP foi entregue.”

Pasqualini pedala há mais de 20 anos em São Paulo e mora no limite da capital paulista com a vizinha Taboão da Serra. Como consultor de ciclismo, criou o blog “O Bicicreteiro”, no qual divulga e comenta novidades da área. Seu relato mostra que os esforços do prefeito Fernando Haddad (PT) para popularizar a bicicleta como um dos principais transportes alternativos da cidade esbarram na questão de interligar periferias com o centro e entre outras zonas territoriais.

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No mapa das ciclovias e ciclofaixas já existentes, é possível ver alguns caminhos praticamente isolados, como na avenida Luiz Gushiken, Cidade Dutra e Rio Bonito, na zona sul; Vila Prudente e avenida Aguiar da Beira, na zona sudeste; Freguesia do Ó e Rua Balsa, na zona noroeste; Jardim Helena/São Miguel e Parque São Lourenço, na zona leste; e Parque Arariba, na zona sudoeste.

A intenção da prefeitura é ampliar a malha cicloviária em 400 km neste ano. Até o momento foram implantados 195,8 km de vias destinadas aos ciclistas. A prefeitura enfrenta vários empecilhos para este plano, como críticas de parte da população, problemas de ordem técnica e até uma ordem da Justiça para paralisar todas as obras de ciclovias, com exceção da avenida Paulista.

Ainda assim, a adesão à bicicleta vem crescendo. Um levantamento de 2013, realizado pelo Ibope, a pedido da Rede Nossa São Paulo (movimento formado por mais de 700 organizações da sociedade civil), estimou que cerca de 174,1 mil moradores da cidade usavam a bicicleta diariamente. Em 2014, o número passou para aproximadamente 261 mil –um aumento de 50% em 12 meses.

A pesquisa não especifica os usuários das áreas afastadas, mas outra mais antiga, de 2007, e realizada pelo Metrô de São Paulo, afirmava que mais de 91 mil pessoas de 21 distritos da cidade já utilizavam a bicicleta como transporte diário.

Questionada pela reportagem sobre a deficiência de conexões das atuais ciclofaixas e ciclovias, a CET-SP (Companhia de Engenharia de Tráfego) explicou, via assessoria de imprensa, que seu projeto prevê a implantação de vias destinadas aos ciclistas “em todas as regiões da cidade, inclusive nos bairros periféricos”.

Além disso, a elaboração dos novos projetos e suas respectivas ativações estão sendo realizadas “atendendo às características de cada local, como presença de ciclistas na via (leito veicular ou calçadas); características do tráfego: volume veicular, velocidade, composição da frota, especialmente se a via é itinerário de ônibus ou rota de caminhão; características de uso do solo: residencial, comercial, entre outras”.

Depoimentos

Ciclistas de áreas mais distantes do centro de São Paulo ouvidos pelo UOL são praticamente unânimes: festejam o plano da prefeitura em ampliar os caminhos para os usuários deste meio de transporte, mas lamentam que as atuais ciclovias ainda não sejam suficientes para transitar com facilidade por toda a capital.

“Eu utilizo ciclovias e ciclofaixas da zona leste, próximas à região de Itaquera, Artur Alvim e São Miguel. Porém falta ainda a interligação entre elas. Muitas pessoas aqui nas proximidades utilizam a bike como meio de transporte. Penso que, assim que interligarem as vias, passando por terminais de ônibus e estações de metrô, ambos com bicicletários, novos ciclistas surgirão”, analisa Tonimar Dal Aba, integrante do grupo Bike Anjo, que ensina novos ciclistas a pedalar com segurança.

Outro morador da zona leste é o professor Sérgio Brejão, usuário da ciclovia da Radial Leste. “Comecei a usá-la como opção para chegar ao trabalho no centro de São Paulo. Esta ciclovia vai dos metrôs Itaquera ao Tatuapé. Depois infelizmente pedalo pelas calçadas, pois no Tatuapé acaba a ciclovia. Do Tatuapé até o centro é um desafio, pois, em alguns trechos, não existem calçadas e pedalar na via é suicídio”, descreve.

André Pasqualini atenta para a falta de alternativas de entrada e saída em grandes vias. “A ciclovia da marginal [Pinheiros] precisa de várias conexões. Outra que deveria ter ciclovia é a Nove de Julho, pois ali as calçadas são largas e o tráfego de pedestres não é intenso. O túnel da Nove de Julho já é muito usado por ciclistas mais experientes para chegar ao centro sem a necessidade de subir até o espigão da Paulista”, explica.

Para Pasqualini, diferentemente do que se imagina, o trânsito nas regiões com ciclofaixas melhorou. “A maioria das ciclovias são feitas em ruas locais onde havia carros estacionados, e não em avenidas. Em algumas dessas ruas o trânsito até flui melhor, pois agora não temos a todo momento carros parando o trânsito para manobrar, portanto não sinto que piorou enquanto motorista”, defendeu.

Fonte: Folha de São Paulo

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