Aconteceu ontem (22/8) o primeiro debate eleitoral em São Paulo entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, realizada pela TV Bandeirantes. O Idec, junto com outras entidades parceiras, acompanhou a discussão em tempo real, atentando ao tema da mobilidade urbana.
A avaliação é que as citações que ocorreram no debate foram recheadas de erros, as opiniões ficaram rasas e os argumentos muitas vezes infundados. Idec, Greenpeace Brasil, Cidade dos Sonhos, Ciclocidade e Cidadeapé comentaram as falas ao vivo pelo Twitter e fizeram uma conversa de avaliação ao final do debate, cujo vídeo pode ser visto abaixo.
A discussão de mobilidade foi marcada pela simplicidade nas opiniões e pela tentativa dos candidatos de contradizer políticas públicas que a atual gestão está implantando – em linha com o que preconiza a Política Nacional de Mobilidade Urbana.
Temas
Questões amplas da cidade como o Plano de Mobilidade de São Paulo (PlanMob) e a nova licitação de ônibus, que estão em discussão há alguns anos e pautarão o desenvolvimento da cidade por décadas, foram deixadas de lado, inclusive pelo prefeito Fernando Haddad, que participou do processo de elaboração de ambos. Dominaram o embate rixas partidárias, propostas infundadas e erros flagrantes.
A questão da redução de velocidades, por exemplo, segue proposições de segurança no trânsito decorrentes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, que por sua vez segue recomendações da Organização das Nações Unidas e apresenta resultados claros em diversas cidades do país e do mundo. No debate, ela foi criticada sem dados embasados pelo candidato Celso Russomanno.
A política cicloviária também segue legislação federal e municipal e foi totalmente esquecida. Marta Suplicy ignorou o Plano de Mobilidade de São Paulo e a Política Nacional de Mobilidade Urbana e disse que não priorizará essa política.
A fiscalização de trânsito, elemento fundamental do tripé da segurança viária, foi criticada pelo perigoso e errado slogan de “indústria da multa” nos discursos de João Dória e Celso Russomanno, que ignoraram as metas e planos de melhoria da fiscalização das infrações previstos no Plano de Mobilidade de São Paulo e seguem recomendações do acordo “Década de Ação pela Segurança no Trânsito”, do qual o Brasil é signatário.
Outro assunto tratado com simplicidade foi a inspeção veicular, vista por Marta Suplicy e João Dória como a melhor forma de melhorar a poluição do ar paulistano, e como necessariamente gratuita. O raciocínio deve ser mais incisivo: para reduzir a emissão de poluentes, precisamos urgentemente reduzir o uso do automóvel e dos veículos motorizados particulares, não apenas fiscalizar sua emissão. A inspeção, que é de fato importante, deve no entanto ser custeada por quem opta por usar o carro, não por toda a sociedade – que já paga diariamente com os problemas e externalidades causados pelo uso excessivo do automóvel.
Até a proposição de terminais e corredores para o transporte coletivo feita por Marta Suplicy soou bastante simplista, baseada em proposta surpresa feita em assessoria de campanha, sem participação popular, e ignorando a infraestrutura que já está implantada na cidade (além do já citado Plano Municipal de Mobilidade). A discussão do Minhocão, entre o Major Olímpio e a Marta Suplicy, entrou na mesma onda, tratando o carro como inevitável no deslocamento das pessoas e ignorando o corredor de ônibus que passa por baixo dele e transporta mais do que o dobro de pessoas.
O tema da saúde pautou muito mais a discussão do que o da mobilidade urbana. Porém, nem a clara correlação entre os dois assuntos melhorou o nível do debate. Outro tema relacionado citado sucintamente foi a organização espacial da cidade (distribuição de empregos e moradias), que gera a necessidade de tantas viagens. Embora tenha aparecido no início do programa, seguiu sem aprofundamento.
Fonte: Move Cidade