Os 100 metros de comprimento, 500 toneladas e mais de 2 quilômetros percorridos pelo Tatuzão, responsável por abrir espaço para a Linha 2-Verde, terão uma mulher no comando. A engenheira civil Sherry Romanholi, de 27 anos, será a primeira mulher a controlar um Tatuzão na América Latina. Ela participa há quase dois anos da obra que conectará a Vila Prudente à Penha pelo Metrô, a ser entregue em 2026.
A primeira função de Sherry nas obras de ampliação da Linha 2-Verde foi na logística, envolvendo o transporte do Tatuzão da China para o Brasil. Batizado de “Cora Coralina“, este é o maior Tatuzão da América Latina. A roda de corte possui 11,66 metros de diâmetro e sua operação envolve 150 pessoas, divididas em três turnos diários.
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A equipe que atua junto a Sherry no controle do Tatuzão é composta por engenheiros, mecânicos, técnicos e eletricistas. Com experiência em engenharia mecânica, elétrica e civil, ela foi escalada para ser a controladora da máquina. Sherry relata que aprendeu no dia a dia a controlar o Tatuzão, apesar dos três andares e diversos compartimentos da tuneladora.
No controle do Tatuzão
“Conheci a máquina em situações do dia a dia. Para pilotar, há outros processos fora da máquina. Precisamos conhecer cada parte dela, a parte da lubrificação e os tipos de graxa… Preciso saber como tudo funciona”, relata Sherry.
A cabine de comando é estreita e possui uma parede repleta de telas que transmitem imagens em tempo real da dianteira e traseira do Tatuzão. Abaixo das telas, há um painel com vários botões que controlam diversas partes da máquina, como a esteira que escoa o material escavado e a roda de corte, além da peça que libera graxa.
O Tatuzão percorre de 10 a 15 anéis de concreto por dia, o que equivale a cerca de 15 metros. Nesse percurso, a tuneladora retira 154 metros cúbicos de terra, aproximadamente o equivalente a 150 caixas d’água residenciais. “O que eu mais gosto é quando está correndo tudo bem. A gente trabalha para que tenha segurança e para que a máquina e o túnel fiquem estáveis”, comenta Sherry.
O trabalho de Sherry será de grande magnitude em vários aspectos. Além da dimensão física da obra, há uma enorme responsabilidade, pois o Tatuzão passa por debaixo de casas, shoppings e outros estabelecimentos. Cada metro percorrido pela tuneladora deve ser cuidadosamente calculado para respeitar as condições físicas do espaço. Esse trabalho envolve também um coordenador da máquina e da escavação.
Sherry “não tinha vivência dentro de obra”, como define. Formada há três anos como engenheira civil, seu trabalho se dava principalmente em um ambiente de escritório. Do computador, ela passou para o chão de obra. “Eu ficava somente no escritório, não tinha vivência no campo. No computador estava tudo ok, mas aqui é diferente e eu prefiro”, diz.
O campo em que Sherry atua e pelo qual é apaixonada desde criança, o da engenharia, é predominantemente masculino. Por isso, ser a primeira mulher a pilotar o equipamento de uma obra tão importante é motivo de alegria. “Me sinto privilegiada e honrada. Tenho certeza que, eu estando aqui, virão outras que se inspirem e entrem na construção civil. Estou percorrendo um caminho que vai servir de espelho para outras pessoas”, relata, incentivando que mais mulheres ingressem na carreira.
Expansão da Linha 2-Verde
A ampliação da Linha 2-Verde ocorre entre a Vila Prudente e a Penha, com 8,4 km de vias e oito novas estações, cruzando a zona leste de São Paulo.
Quando pronta, a nova extensão vai agilizar o trajeto dos moradores da região leste e facilitar a chegada às demais regiões de São Paulo, além de redistribuir a demanda de passageiros nas outras linhas de metrô e trem, trazendo mais conforto para os usuários.
A conexão com a Linha 3-Vermelha beneficiará 1,2 milhão de pessoas diariamente e ajudará a reduzir os tempos de trajeto da população da zona leste, além de redistribuir o fluxo de passageiros em toda a rede sobre trilhos.
Maior e melhor obra do Brasil
A obra de expansão da Linha 2-Verde do Metrô rendeu à Companhia, em agosto, o prêmio “Melhores e Maiores Obras 2024” do Instituto Nacional de Engenharia, na categoria Mobilidade-Metrô.
A premiação avaliou obras concluídas e em andamento em todo o país, considerando desde elementos técnicos até os principais benefícios sociais promovidos. Ao todo, foram 19 subcategorias que analisaram obras de edificações, indústrias, mobilidade e infraestrutura.
Para concorrer ao prêmio, o Metrô apresentou sua maior e mais complexa obra em andamento, que é uma das maiores de infraestrutura da América Latina, com 8,3 km de vias e oito novas estações entre Vila Prudente e Penha.