Trólebus é reconhecido em todo mundo e desvalorizado no Brasil

No dia 22 de abril de 1949, os primeiros trólebus iniciaram suas operações em São Paulo, marcando não apenas o nascimento desse modal de transporte na cidade, mas também o início de uma jornada de 75 anos de existência no Brasil. Poucos reconhecem a importância dessa data, que nos lembra que o transporte público elétrico, limpo e sustentável completou quase um século de história em solo brasileiro.

A linha original, que ligava Aclimação à Praça João Mendes, era considerada uma das mais modernas do mundo à época, contando com 34 veículos de alta qualidade provenientes dos Estados Unidos e da Europa. No auge, o sistema de trólebus em São Paulo foi o maior do hemisfério sul, compreendendo 559 veículos e uma extensão de 326 km de rede aérea, conforme relatos de historiadores.

Contudo, apesar desse pioneirismo, hoje restam poucos vestígios desse passado glorioso. Os trólebus circulam regularmente apenas em três regiões brasileiras: São Paulo (com 201 veículos), Grande ABC/Corredor ABD (85) e Santos (apenas 6). Embora representem uma fração mínima dos 106 mil ônibus a diesel presentes na frota nacional, dos 550 ônibus elétricos em operação no Brasil, cerca de 300 são trólebus.

É lamentável que, para muitos, a imagem dos trólebus seja associada a um modal ultrapassado e obsoleto, cuja rede aérea contribui para a poluição visual das cidades. No entanto, ao contrário dessa percepção, lá fora, em países como Estados Unidos, Canadá, México, França, Suíça, Itália, Grécia, China, Rússia e outros, as frotas de trólebus têm aumentado significativamente nas últimas duas décadas.

Isso se deve à evolução do modal, que se tornou mais inteligente e eficiente. Os trólebus modernos são ônibus elétricos equipados com um banco de baterias alimentado pela rede aérea. Essas baterias são recarregadas durante a jornada operacional por meio de alavancas hidráulicas e digitais, garantindo ampla autonomia sem a necessidade de contato externo.

Essa inovação traz uma série de vantagens, como a redução do tamanho e do peso das baterias, a eliminação da necessidade de infraestrutura de recarga centralizada nas garagens e a ampliação da vida útil das baterias devido às recargas de oportunidade durante o trajeto. Além disso, o custo da fiação externa é reduzido, resultando em uma operação mais econômica e sustentável em todo o sistema.

Um exemplo desse novo trólebus é o e-Trol 21,5m articulado, fabricado no Brasil pela Eletra e lançado este ano. Trata-se de um desenvolvimento tecnológico moderno a partir de um modal tradicional, que tem o potencial de ser uma excelente solução de transporte público de qualidade, com emissão zero e baixo custo operacional, especialmente em corredores segregados e BRTs.

E-trol VI
Foto: Divulgação

Operadores e gestores de transporte em todo o mundo estão reconhecendo o potencial dos trólebus modernos como uma alternativa viável e sustentável para os desafios urbanos do século XXI. É hora de deixar de lado os preconceitos e abraçar essa solução inovadora para garantir um futuro mais limpo e eficiente para as nossas cidades.

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