A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e da São Paulo Transporte, assinou nesta sexta-feira, dia 6 de março de 2020, um Termo de Cooperação para criar um grupo de trabalho para amplificar o combate aos casos de abuso sexual nos ônibus municipais.
O documento foi assinado ao final da Roda de Conversa – Ponto Final ao Abuso Sexual nos Ônibus em São Paulo, realizada nesta manhã no auditório da Prefeitura de São Paulo, no Centro. O evento contou com a participação de coletivos feministas, representantes da Polícia Civil, do Ministério Público e do Banco Mundial, empresárias e operadores do sistema municipal de ônibus, além dos secretários de Mobilidade e Transportes e de Direitos Humanos e Cidadania.
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O grupo de trabalho deve atuar de forma permanente para discutir estratégias de combate a essa prática e formas de aprimorar o atendimento às vítimas, como o encaminhamento a serviços especializados.
O secretário de Mobilidade e Transportes afirmou que o enfrentamento ao abuso sexual depende justamente de diálogos como o promovido pelo evento desta sexta-feira, envolvendo vários setores da sociedade civil. “Espero que esse Termo de Cooperação seja o início de um trabalho em conjunto no sentido de defender uma causa muito importante dentro da área da mobilidade”, concluiu.
O foco da Roda de Conversa foi discutir as ações já em curso e identificar e propor novos caminhos para dar um ponto final ao abuso sexual. Parte do público foi composto por funcionários das empresas de ônibus municipais.
Na abertura do primeiro painel, com o tema “O direito de ir e vir nos ônibus livre do abuso sexual”, foi exibido um vídeo criado por Simony Cesar, fundadora da startup NINA, uma tecnologia que rastreia casos de abuso sexual na mobilidade urbana e implantado em Fortaleza.
Em seguida, a jornalista e documentarista Amanda Kamanchek, do coletivo Think Olga, a motorista de ônibus Ivani Moreno, da Viação Metrópole Paulista, a delegada da Polícia Civil, Jacqueline Valadares e a promotora de Justiça, Sílvia Chakian, expuseram questões que retratam as dificuldades enfrentadas pelas mulheres diariamente no transporte público, como a falta de acolhimento às vítimas após a ocorrência do abuso sexual. As convidadas falaram dos avanços que levaram ao endurecimento da legislação penal sobre o tema, os caminhos para as denúncias e a importância de campanhas para a conscientização da sociedade.
“Estamos atrasadas com relação ao direito das mulheres. Enquanto em outros países, as mulheres estão saindo às ruas para reivindicar melhores salários e condições de trabalho, nós ainda estamos lutando por respeito e contra o assédio sexual”, afirmou a promotora Sílvia Chakian.
“O abuso sexual não tem lugar nos ônibus de São Paulo” foi o tema do segundo painel, do qual participaram a chefe de gabinete da SPTrans, Luciana Durand, as empresárias de ônibus, Ângela Agoston, da Express Transportes e Sandra Pinho, da Allibus Transportes, a representante do Banco Mundial Haydée Svab, e a secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Claúdia Carletto.
Luciana Durand afirmou que 56% das passageiros de ônibus na cidade são mulheres e que há um grande desafio para inibir o abuso sexual dentro do transporte público. A SPTrans vem implantando medidas efetivas com o objetivo de que as mulheres se sintam seguras para denunciar imediatamente quando são vítimas.
“Desde 2017, todos os ônibus devem ser parados em casos de abuso sexual”, comentou a chefe de gabinete. A viagem é interrompida para que o agressor seja entregue à autoridade policial. “Isso é um grande ganho para a sociedade”, completou.
Os contratos assinados com as empresas de ônibus preveem a instalação de câmeras de monitoramento no interior dos coletivos, a fim de colaborar com a segurança das passageiras, ajudar na investigação policial e coibir a ação do abusador. Vale reforçar que 152 mil operadores de ônibus (motoristas, cobradores e fiscais) foram treinados desde 2017 sobre como agir em casos de abuso no interior dos veículos.
A secretária de Direitos Humanos apontou que a educação é fundamental para a promoção da igualdade de gênero. “Quando se trabalha isso desde a infância, muda-se um fator fundamental, que é a cultura”, declarou Claúdia Carletto.
Representante do Banco Mundial, Haydée Svab defendeu a implementação de um canal unificado de denúncia para vítimas de abuso no transporte e do protocolo de combate ao abuso sexual.
Ações da SPTrans
A SPTrans realiza campanhas preventivas sobre abuso sexual em materiais afixados nos ônibus, terminais e publicados em seus perfis nas redes sociais. Em 2019, foram publicados 81 posts sobre o tema, alcançando cerca de 264.680 pessoas.
Em casos de abuso sexual dentro dos ônibus, é importante que o motorista e cobrador sejam comunicados imediatamente para que possam tomar as providências cabíveis.
A orientação é para que os motoristas parem o ônibus e aguardem a chegada da polícia ou conduzam até a delegacia mais próxima. Lá a vítima poderá registrar o boletim de ocorrência e receber amparo das autoridades policiais.
Em agosto de 2017, a SPTrans aderiu à campanha “Juntos podemos parar o abuso sexual nos transportes”, que conta com a cooperação de instituições públicas e privadas para combater a essa violência e estimular a denúncia para que os agressores sejam punidos.