Transporte é apenas parte das soluções para mobilidade urbana

Pensar em soluções para mobilidade urbana não pode se resumir a criar ou expandir sistemas de transporte, mas sim integrar um conjunto de ações que passam também pelo uso e ocupação racional do solo, sobre como as cidades são ocupadas.

A afirmação é de Paulo Resende, coordenador do núcleo de infraestrutura da Fundação Dom Cabral. Além disso, Paulo Resende defende a revisão do papel do setor público como provedor de soluções em mobilidade, a criação de agências metropolitanas com mandato supramunicipal e um arcabouço jurídico e social que garanta a continuidade dos projetos estruturantes.

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  • Suas recomendações têm como base a constatação de que hoje as as grandes e médias cidades em todo o mundo vivem uma escolha entre o caos e a prosperidade.

    “O gestor público ainda insiste no mito de que a redução dos congestionamentos é o objetivo de todas as políticas de mobilidade, mas Los Angeles, por exemplo, tem 400 km diários de congestionamento”, exemplifica.

    Para ele, a diferença entre a cidade norte-americana e São Paulo ou Bangalore, na Índia, é que lá trata-se de uma opção. “Lá, assim como em outras grandes cidades do mundo, há alternativas para quem quiser optar por não usar o transporte individual. No Brasil não há.”

    Quando se fala em um uso racional do espaço, o principal efeito sobre uma mobilidade mais eficiente é a redução dos deslocamentos. Moradias longe dos destinos, sejam eles o trabalho ou escola, obriga as pessoas a atravessarem diariamente grandes distâncias.

    Desenvolvimento regional é parte dessa política. É por isso que o especialista defende também ações de âmbito metropolitano. “Municipalizar a questão da mobilidade só transfere o caos para as periferias”.

    Paulo Resende lembra que não são só os mais pobres que vivem longe do centro. Há um movimento forte da classe alta para condomínios e cidades da região metropolitana. Nesse aspecto, criar vias só beneficia o carro.

    “Não adianta apenas focar em obras sem transporte de massa, a integração entre os sistemas e a redução dos deslocamentos. Respostas urgentes, como mais vias, são de soluções de engenharia, não de inteligência.”

    E Paulo Resende vai além: para ele, o metrô é onde o rico anda com o pobre em qualquer grande cidade do mundo, que também tem processos de suburbanização de várias classes sociais, mas o Brasil é o único país onde as cidades ainda insistem na segregação. “Quem é favorecido por esse sistema”, questiona.

    Outro nó quando se pensa em mobilidade é a tendência do poder público de não pensar a questão de forma multigeracional, pois tudo sempre é tratado no curto prazo. “Pedágio urbano é rodízio é adotado quase quando se entrega os pontos. Boas políticas de mobilidade se antecedem à demanda”, afirma.

    Segundo Paulo Resende, São Paulo tem 170 km² de vias e 445 km² de carros. Simplesmente não cabe. Ainda de acordo com o especialista, a cidade perde R$ 80 bilhões por ano com os congestionamentos, já descontados o que é considerado um congestionamento natural numa cidade como essa.

    “A falta de soluções para a mobilidade leva as pessoas ao carro, o que retroalimenta o caos”, conclui.

    Paulo Resende participou nesta sexta-feira 28 do seminário Diálogos Capitais – Mobilidade Urbana, organizado pela revista CartaCapital.

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