Nas debates eleitorais de 2016, mobilidade urbana é um dos principais temas comentados pelos candidatos e, como era esperado, envolve discussões sobre o uso de bicicleta na cidade. É fato que a tendência internacional de incentivo ao pedalar já se reflete em São Paulo e, com certeza, as próximas gestões municipais podem ser responsáveis tanto por um impulso nessa tendência como por um revés.
Nesse cenário, seguem algumas medidas fundamentais para que o incentivo ao uso da bicicleta continue:
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Mais ciclovias e ciclofaixas
As ciclovias e ciclofaixas de São Paulo são estruturas fundamentais para o estímulo ao uso da bicicleta na cidade, mesmo com problemas como buracos ou pontos mal sinalizados. O crescimento de 50% no número de ciclistas na cidade em 2014, período em que a malha cicloviária saltou de 63 para 205 quilômetros, evidencia que essas vias realmente colaboram no aumento do número de viagens de bicicleta na capital.
Por isso, é importante que a próxima gestão municipal trabalhe na correção das falhas e na expansão da rede, principalmente com mais conexões entre o centro expandido e a periferia. Quanto às ciclovias e ciclofaixas que estão isoladas, elas devem ser complementadas para que ajudem a formar uma malha cicloviária na cidade. Não podemos cogitar qualquer proposta que vise a removê-las.
Manter a redução da velocidade máxima nas vias
Uma das medidas mais importantes para o incentivo ao uso da bicicleta é a redução da velocidade máxima das vias, o que as torna mais segura para o ciclista. A eficácia dessa medida, que vem sendo implantada na capital desde a década de 1990, é inquestionável. De acordo com dados do Instituto Médio Legal e da Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado de São Paulo – compilados pela CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) em seu Boletim Técnico 53 –, entre 2005 e 2009 o número de acidentes fatais causados por fatores humanos (relacionados exclusivamente ao comportamento do motorista ou do pedestre) foi de 78%. Nesse número, 44% das causas foi excesso de velocidade.
Vale lembrar que dirigir é um processo influenciado pelas condições físicas e emocionais do motorista, o que significa que a habilidade no volante é afetada por fatores como condicionamento físico, cansaço, estresse, ação de remédios e a natural perda das capacidades visual e auditiva que ocorrem com o passar dos anos. Por isso, vias com altos limites de velocidade requerem um grau de condições reflexas-motoras que, na prática, somente motoristas mais jovens possuem.
A redução de velocidade do viário também colabora com a requalificação dos espaços públicos existentes no entorno, que tornam-se mais seguros e acolhedores especialmente para pedestres e ciclistas menos ágeis e com maior probabilidade de serem vítimas fatais em colisões e atropelamentos, como crianças e idosos.
E algo que, apesar de parecer óbvio, precisa ser lembrado: a importância crucial da redução de velocidade em vias que já contam com grande circulação de pedestres no entorno, como as pistas locais das marginais. Suas calçadas apresentam um grande movimento gerado pelas centenas de empresas e pelo menos cinco shoppings centers e três parques existentes.
Por último, vale a pena conferir esta animação que explica de forma simples e objetiva porque a redução da velocidade máxima nas vias gera benefícios para todos.
Educar
Existem várias regras que, apesar de claramente definidas no Código Brasileiro de Trânsito, ainda são desrespeitadas por ignorância e deveriam ser tema de uma ampla campanha educativa, seja por meio das mídias que o poder público dispõe (displays de rua, cartazes em ônibus e locais públicos, portais e redes sociais etc) ou dos grandes meios de comunicação.
Algumas dessas regras: o direito do ciclista em trafegar em vias que não tem ciclovias ou ciclofaixas, a proibição de estacionar ou parar em vias para bicicletas e calçadas (que muitos erroneamente acreditam ser permitido ligando o pisca alerta) e a obrigatoriedade dos condutores de veículos maiores em zelar pela segurança dos ocupantes dos veículos menores.
Fiscalizar
Apesar das constantes reclamações de que existe uma suposta “indústria de multas”, o que se observa na prática é uma verdadeira indústria de infrações: estima-se que 55% dos motoristas da capital deixam de respeitar as regras de trânsito com atitudes como usar o celular enquanto dirigem, avançar o sinal vermelho, parar e estacionar em locais proibidos e agir de forma perigosa contra pedestres e ciclistas.
Ações comuns como desacelerar o carro ao se aproximar de um radar são exemplos de como muitas leis só são cumpridas quando doem no bolso, evidenciando a necessidade de mais fiscalização. Além disso, o próximo(a) prefeito(a) de São Paulo poderia ter um papel de peso na pressão por uma atualização do Código Brasileiro de Trânsito, para permitir ao cidadão comum registrar e encaminhar infrações aos órgãos competentes, algo que já acontece em Buenos Aires por exemplo.
Requalificação dos espaços viários para pedestres e ciclistas
Um tema espinhoso em qualquer política pública, alvo de debates acalorados e até ações judiciais: o uso de faixas de estacionamento como ciclovias e extensões das calçadas. Tais espaços, apesar de vistos como paraísos para os motoristas, são também uma das principais causas de engarrafamentos, ou seja, causam o inferno.
Isto porque, como a maioria dos especialistas em mobilidade urbana afirmam, vagas de estacionamento estimulam o uso do automóvel. Afinal, qual motorista nunca colocou o carro na rua mesmo para percorrer distâncias curtas, por ter a disposição uma vaga gratuita para estacionar? Da forma contrária, muitos pensam duas vezes antes de dirigir se no destino as vagas forem pagas ou indisponíveis.
Fatores como a poluição, a saturação do viário e necessidade da ampliação de espaços públicos como ciclovias, calçadas, parques e praças torna consensual a ideia de que a quantidade de carros nas ruas e o espaço para guardá-los tem de ser diminuídos. Sendo assim, transformar faixas de estacionamento em ciclovias ou extensões de calçadas é uma política acertada, tanto em seus objetivos como pela praticidade e rapidez de implantação. Essas transformações devem continuar para benefício dos pedestres, ciclistas e dos próprios motoristas.
São Paulo passou por décadas de intervenções urbanísticas que transformaram espaços públicos em áreas para trânsito e estacionamento de automóveis. Finalmente o processo está tomando o caminho inverso, com o resgate dessas áreas para convivência e circulação de pedestes e a segurança de ciclistas. Que as próximas gestões aprimorem e não interrompam esse processo.
Créditos: Blog São Paulo na Bike
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