Metalúrgicos fecham rodovia Anchieta para protestar contra demissões

Mercedes Benz anunciou que vai dispensar 1,5 mil trabalhadores.
Metalúrgicos querem entrar no Programa de Proteção ao Emprego.

Milhares de metalúrgicos fecharam a Via Anchieta, na altura de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, na manhã desta quarta-feira (26). A Anchieta é uma das principais rodovias que ligam a capital ao litoral de São Paulo. Os metalúrgicos são funcionários da Mercedes-Benz e protestam contra as demissões anunciadas pela empresa.

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O protesto começou pelas ruas da cidade e seguiu para a Anchieta. Dez mil participaram, segundo o sindicato. A PM diz que foram cinco mil. A Ecovias, concessionária que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes informou que a rodovia ficou bloqueada em um trecho de cinco quilômetros.

A Mercedes anunciou que vai dispensar 1,5 mil trabalhadores. As demissões começaram na sexta-feira (28). Na segunda-feira (24), os metalúrgicos decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. Eles querem entrar no Programa de Proteção ao Emprego (PPE) do Governo Federal, mas a empresa disse que o PPE não é suficiente. Desde segunda-feira não se produz nada na Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo. Mesmo assim, o pátio continua lotado.

Em São Paulo, a indústria automobilística demitiu quase 24,5 mil trabalhadores. Desde o começo do ano, as montadoras estão adotando medidas para evitar as demissões. A
Volkswagen de São Bernardo abriu um programa de demissão voluntária em janeiro, deu férias coletivas em maio e em junho colocou mais de 200 trabalhadores no sistema de lay-off, quando há suspensão temporária dos contratos de trabalho. Em julho, além de fechar o terceiro turno, aumentou o numero de trabalhadores em lay-off.

A Ford começou abril com o programa de demissão voluntária, deu lay-off em maio para 200 trabalhadores e férias coletivas para toda a produção. Em junho, implantou novo programa de demissão voluntária e no mês passado paralisou toda a produção.

A Scania implantou a semana de quatro dias em maio, reduziu a jornada em junho e deu férias coletivas até o começo de julho.

A Mercedes-Benz reduziu a jornada de 715 trabalhadores em julho do ano passado. Em maio, abriu o programa de demissão voluntária, em junho deu férias coletivas e em julho anunciou novo programa de demissão voluntária.

“Nós estamos reivindicando a adoção do Programa de Proteção ao Emprego. Na nossa avaliação, a queda que estamos vivendo no setor de caminhões se reverte a partir de meados de 2016. Se empresa adotar o programa hoje, por um ano, isso nos daria uma estabilidade por 16 meses”, afirma Sérgio Nobre, secretário-geral da CUT.

A Mercedes-Benz não quis gravar entrevista, mas informou que a adoção do PPE não basta, porque hoje a montadora tem um excedente de mais de dois mil trabalhadores.

Na última sexta-feira (21), os trabalhadores que vão ser demitidos a partir de 1º de setembro começaram a receber os telegramas. “É triste. A gente sempre trabalhou certo, como todo mundo na situação que a gente se encontra, e de repente chega uma surpresa dessas na nossa casa”, relata o montador Joab Queiroz de Almeida.

Até agora não há um balanço fechado da adesão ao PPE. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) diz que são, pelo menos, quatro empresas de autopeças e uma montadora. “É um instrumento novo. Os dois lados, tanto o patronal, como dos trabalhadores, precisam aprender. Mas o mais importante, o PPE só pode ser concluído e só terá sucesso se houver um amadurecimento na relação capital-trabalho”, avalia Luiz Moan, presidente da Anfavea.

Uma empresa de autopecas de Diadema, na Grande Sao Paulo, já demitiu 50 funcionários este ano e para evitar que mais gente vá para a rua, quer aderir ao programa. A empresa já fez um acordo com os funcionários para reduzir em 10% a jornada de trabalho e os salários. Em compensação, durante um ano e quatro meses ninguém poderá ser demitido.

Serão dois dias de trabalho a menos no mês. Na prática, a redução no salário será de 5%, porque os outros 5%o serão repostos com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A empresa deu entrada na documentação no Ministério do Trabalho e agora aguarda uma resposta. “A empresa tem que procurar todo tipo de redução de custo. E quando se fala de redução de custo, revisão de despesas, passa também pelo quadro de pessoal. Então, esse programa veio dar um fôlego a mais para as empresas passarem por esse momento difícil que está o mercado”, afirma Edson Fernandes, gerente de RH da empresa.

A Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) divulgou o balanço do mês de julho. Em 2014, 367 mil trabalhadores do setor estavam trabalhando. Em julho deste ano eram 334 mil, o que significa a demissão de 33 mil nos últimos 12 meses.

Fonte: Jornal Hoje