Um laudo contratado pelo governo de São Paulo concluiu que a cratera que se abriu na Marginal Tietê em 2022, durante as obras da Linha 6-Laranja, não teve relação com o avanço do “tatuzão” da Acciona. Segundo o estudo, o desmoronamento foi causado pelo rompimento de uma supertubulação da Sabesp, agravado por uma sobrecarga no sistema de esgoto da região em diversos dias, combinada com chuvas.
A Sabesp informou que ainda não teve acesso ao relatório, mas mencionou uma análise do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, que atribuiu o acidente à passagem do tatuzão sem as devidas medidas protetivas.
Conclusões do relatório
A TV Globo teve acesso com exclusividade o relatório de 700 páginas, que dá a palavra final sobre as causas do acidente. O estudo, realizado por um consórcio de empresas especializadas, considerou os argumentos da Sabesp e da construtora da Linha 6, que mutuamente se culpavam pelo ocorrido.
O laudo concluiu que “a passagem do tatuzão por si só não poderia ser a causa da ruptura”, argumentando que “a escavação da tuneladora não é um evento que possa desencadear um mecanismo de colapso”. Em contraste, a pressurização excessiva da rede de esgoto foi identificada como um possível fator desencadeante do vazamento, que levou à perda de resistência do terreno.
Os especialistas consideraram dois cenários de fluxo na estação de esgoto Nova Piqueri entre abril de 2020 e fevereiro de 2022. No cenário que assumiu uma maior taxa de ligações clandestinas sobrecarregando o sistema, “dos 672 dias analisados, 61 teriam ultrapassado o volume [acima] de 111 mil m³”, indicando que em pelo menos 10% dos dias o interceptor de esgoto poderia estar sob pressão excessiva.
Além disso, o documento aponta que o interceptor de esgoto “não estava dimensionado para essa situação”, e que havia sinais de fissuras e falta de estanqueidade no revestimento da tubulação.
Impacto e custos do acidente
A cratera na Marginal Tietê causou grandes transtornos, incluindo a necessidade de construir um desvio na pista local, limpar e desinfetar os túneis do futuro Metrô, e substituir a parte elétrica dos tatuzões que ficaram submersos. O custo estimado para essas ações foi de cerca de R$ 300 milhões. Com o laudo final, a concessionária Acciona poderá buscar ressarcimento pelos danos.
Respostas dos envolvidos
O governo de São Paulo informou que anexará o documento ao processo que investiga o acidente. A Sabesp reiterou que não teve acesso ao relatório, mas apontou que uma análise anterior do Instituto de Pesquisas Tecnológicas atribuiu a causa do acidente à passagem do tatuzão. A concessionária Acciona afirmou que o estudo confirma a ausência de responsabilidade da construtora e que aguardará o desfecho do processo para tomar as providências necessárias.