O transporte público por ônibus no Brasil sofreu uma queda significativa no número de passageiros na última década, perdendo quase metade de seus usuários. Entre as causas apontadas estão o crescimento do trabalho remoto, o aumento das vendas online, o uso de veículos individuais, como carros e motos, e os impactos da pandemia de Covid-19, dos quais o sistema ainda não se recuperou totalmente.
De acordo com a edição 2023-2024 do Anuário da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), em abril de 2013, cerca de 381,1 milhões de pessoas utilizaram os ônibus urbanos. No mesmo mês em 2023, esse número caiu para 204,5 milhões, representando uma redução de 46%. Em outubro de 2013, 398,9 milhões de passageiros foram transportados, enquanto em outubro de 2023, esse número caiu para 223 milhões, uma queda de 44%.
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Os dados foram apresentados na manhã desta terça-feira (6) durante um evento do setor na cidade de São Paulo. A série histórica do anuário compara os meses de abril e outubro, destacando a redução na quantidade de passageiros transportados.
Desafios e Mudanças no Setor
As cidades monitoradas pelo anuário incluem Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Esses locais representam 33% da frota nacional de 107 mil veículos e 34% do número de passageiros transportados no país.
Em 2023, os ônibus urbanos transportaram 19,1 milhões de pagantes a menos por dia em comparação a 2014. Francisco Christovam, diretor-executivo da NTU, afirmou que “o setor vem se recuperando da crise da Covid-19 e que a demanda dificilmente retornará aos níveis pré-pandemia sem novas políticas públicas, como um novo marco legal e incentivos governamentais.”
Investimentos e Subsídios
O estudo aponta que outros setores, como o transporte individual, receberam mais investimentos nas últimas décadas, enquanto o transporte público acumulou problemas financeiros e operacionais, resultando na perda de usuários. A idade média da frota de ônibus era de 6,5 anos em 2023, acima do ideal de cinco anos, com a idade média dos coletivos aumentando desde 2011, afetando a qualidade dos serviços.
As tarifas de ônibus aumentaram, em média, 6,6% em 2023, com preços entre R$ 5 e R$ 6,50. Recentemente, subsídios começaram a ser aplicados aos passageiros, com 365 cidades oferecendo algum tipo de subsídio na política tarifária, incluindo 135 municípios com tarifa zero.
O anuário indica que os subsídios atuais cobrem cerca de 30% do custo total dos serviços, enquanto a média internacional é de 55%. A estabilidade da frota total usada em 2023, com pequenas variações, também reflete a falta de novos projetos de infraestrutura de mobilidade coletiva, como BRTs e corredores de ônibus.
Perspectivas e Necessidades Futuras
O documento destaca que, apesar das promessas feitas em anos eleitorais, é essencial um conjunto de iniciativas bem planejadas e de longo prazo que envolvam as três esferas de governo (União, estados e municípios) para melhorar a qualidade e eficiência do transporte coletivo. Isso inclui a renovação da frota, a garantia de tarifas acessíveis e a execução de programas de infraestrutura.
A NTU alerta que, sem um compromisso viável e contínuo, as medidas pontuais e eleitoreiras não serão suficientes para superar os desafios enfrentados pelo transporte público no Brasil.