O sistema Free Flow está mudando a forma como os motoristas trafegam pelas rodovias brasileiras. O modelo substitui as praças de pedágio por pórticos eletrônicos, oferecendo mais agilidade, segurança e sustentabilidade. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Pagamento Automático para Mobilidade (Abepam), o número de veículos com tag de pagamento cresceu 67% entre 2023 e 2025, saltando de 9 milhões para 15 milhões. A previsão é que esse número atinja 20 milhões até 2027, impulsionado pela expansão das concessões rodoviárias e pela adoção da tecnologia Free Flow.
O sistema, já implantado em países como Austrália, Canadá e Japão, chegou com força ao Brasil e está em operação em trechos como a BR-101 (Rio-Santos) e a rodovia dos Tamoios. A tecnologia elimina filas, reduz acidentes e emissões de poluentes, além de tornar a cobrança mais justa e eficiente. Um estudo da Universidade de Brasília (UnB) aponta que o Free Flow pode diminuir significativamente o índice de acidentes e os custos operacionais, beneficiando tanto motoristas quanto concessionárias.
Free Flow: tecnologia nacional eleva padrão de eficiência e segurança
O engenheiro Ailton Queiroga, presidente da COMPSIS – empresa de São José dos Campos especializada em inteligência artificial para sistemas rodoviários – afirma que o Brasil possui tecnologia própria capaz de operar o Free Flow com alta precisão. A COMPSIS, pioneira no segmento, desenvolveu um sistema 100% nacional com sensores, câmeras LPR. Antenas RFID e algoritmos de IA treinados com milhões de transações em rodovias brasileiras. Isso garante identificação de veículos em tempo real, mesmo sob chuva, à noite ou em alta velocidade, com acurácia superior à de soluções importadas.
A tecnologia brasileira já está presente em eixos estratégicos como o Rodoanel Mário Covas (SP) e avança para outras regiões. Segundo Queiroga, o grande diferencial do Free Flow nacional está na integração com plataformas como o SICAT Pay, que permite ao motorista visualizar e pagar suas passagens com total transparência, e no desenvolvimento da IA Eaglevision, que amplia o uso dos sensores para monitoramento de tráfego e segurança viária.
Além da eficiência operacional, o Free Flow representa economia ambiental e financeira. Sem paradas ou cancelas, o motorista reduz o consumo de combustível e as emissões de gases, enquanto as concessionárias operam com custos menores, o que pode resultar em tarifas mais justas.
Desafios e regulação do modelo no Brasil
Apesar dos avanços, a expansão do Free Flow no Brasil ainda enfrenta desafios. O principal deles é regulatório: ainda não há uma norma nacional que defina regras claras sobre cobrança, integração com o RENAINF e gestão da inadimplência. Também há barreiras estruturais – nem todas as concessionárias possuem sistemas de backoffice preparados para operar os pórticos automatizados.
De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o pagamento pode ser feito por meio de tags eletrônicas, com possibilidade de descontos progressivos, ou pela leitura da placa, caso em que o motorista deve regularizar o pagamento junto à concessionária em até 30 dias. Após esse prazo, o não pagamento é considerado infração grave, com multa de R$ 195,23 e cinco pontos na CNH, conforme o artigo 209-A do Código de Trânsito Brasileiro.
A pesquisadora Isabela Reichert, da UnB, alerta que a inadimplência é um dos maiores desafios do sistema. “Sem controle rigoroso e penalizações eficazes, o modelo pode se tornar insustentável”, afirma. Para superar esses entraves, o país precisa fortalecer a legislação e aprimorar a comunicação com os motoristas, garantindo confiança e transparência no processo de cobrança.
Free Flow e o futuro da mobilidade nas rodovias
O Free Flow representa um marco na modernização da infraestrutura rodoviária brasileira. Além de reduzir acidentes, o sistema oferece fluidez, segurança e ganhos logísticos para o transporte de cargas e passageiros. O investimento previsto de R$ 46,7 bilhões em novas concessões e tecnologias deve acelerar a transição para um modelo mais sustentável e eficiente.
O futuro do Free Flow no Brasil depende da combinação entre tecnologia, políticas públicas e conscientização dos motoristas. Com a expansão da inteligência artificial nacional e o amadurecimento das regulações, o país tem potencial para se tornar referência global em pedágios automatizados.
A COMPSIS, que exporta soluções para países como Austrália, Índia e Nigéria, reforça o protagonismo da engenharia brasileira no setor. Para Queiroga, o Free Flow é uma evolução natural da mobilidade e deve coexistir, por enquanto, com os pedágios físicos. “A convivência entre os dois modelos é inevitável, mas o futuro é eletrônico. E o Brasil já está pronto para isso”, conclui.
