Exercício de Futurologia: antecipando o amanhã do transporte público

Segundo a ONU-Habitat, até 2050 mais de 70% da população mundial viverá em zonas urbanas. As populações urbanas não param de crescer. Ainda segundo as Nações Unidas, cerca de dois terços da população global viverão em conurbações até 2050; em 2014, esse número equivalia apenas à metade. Esse aumento se deve à intensificação do processo de urbanização global, o que nos obriga a enfrentar novos desafios por meio de soluções inteligentes.

As cidades do futuro devem ter um objetivo claro: aumentar e potencializar a qualidade de vida. Isso é um ponto constante nos meus discursos sobre o futuro da mobilidade e da vida urbana. Considerando essas previsões, penso: como será o deslocamento de tantas pessoas nos grandes centros? Viveremos em “cidades inteligentes” com tecnologias disruptivas valorizando o ser humano acima de tudo?

O crescimento populacional traz uma lista de impactos, como o aumento do número de carros nas ruas, congestionamentos, emissão de gases nocivos ao meio ambiente e acidentes. Para mitigar esses efeitos, é necessário investir nas cidades do futuro.

A mobilidade urbana é um fator-chave. Precisamos tornar as ruas mais seguras, aumentar a disponibilidade de veículos compartilhados e reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Fazendo um exercício de futurologia, vejo uma resposta positiva. À medida que nos aproximarmos de 2050, acredito que veremos uma transformação na mobilidade, com mais soluções inovadoras e sustentáveis. Espera-se que os sistemas públicos de transportes autônomos movidos a energias renováveis e a infraestrutura de mobilidade compartilhada sejam mais comuns. As cidades do futuro devem expandir a acessibilidade e a inclusão, um objetivo pelo qual trabalho constantemente.

Considerar o transporte público de qualidade como essencial para um futuro melhor não é por acaso. Ele conecta a população a oportunidades de emprego, educação, saúde, compras e lazer, garantindo o deslocamento de todos pela cidade, independentemente da condição econômica.

A bilhetagem eletrônica é crucial nesse contexto. Ela proporciona praticidade, conforto e agilidade aos passageiros, tornando o transporte coletivo mais acessível e atrativo, o que contribui para a redução de congestionamentos e emissões de poluentes.

Destaco a importância de MaaS – Mobility as a Service, ou Mobilidade como Serviço. Esse conceito oferece ao cidadão várias opções de deslocamento, sejam elas de transporte individual, coletivo, privado ou público. Com uma gestão via MaaS, as empresas devem padronizar e unir seus serviços. Um operador da plataforma MaaS pode oferecer aos usuários acesso e pagamento a todos os serviços integrados por meio de cartão físico ou virtual.

Entretanto, além de ser um serviço, a mobilidade também deve ser vista como um direito social fundamental. Esse paradigma considera o acesso ao transporte público de qualidade como uma necessidade básica que deve ser garantida a todos os cidadãos, independentemente de sua condição socioeconômica. A mobilidade como direito social visa assegurar que todos possam acessar oportunidades de emprego, educação, saúde, lazer e outros serviços essenciais, promovendo inclusão e equidade social.

E para essa integração de MaaS com a visão de mobilidade como direito social tomo a liberdade aqui de tratá-la como “Mobility as a Social Service”, ou simplesmente, “Mobilidade como Serviço Social (MaaSS). Esse sistema de transporte não só é eficiente e tecnologicamente avançado, mas também acessível e justo. Essa abordagem garante que, ao mesmo tempo em que oferecemos aos cidadãos uma plataforma moderna e integrada para gerenciar suas viagens, estamos comprometidos com a missão de tornar o transporte público um direito universal, acessível a todos, independentemente de suas circunstâncias individuais.

Assim visualizo não apenas a adoção generalizada de um modelo de pagamento simplificado e centralizado no futuro, pela sua eficiência e por viabilizar o fluxo de mais pessoas nas cidades, como também acessível e justo no aspecto socioeconômico. Esses são os primeiros passos para aproximar as cidades do conceito de futuro na mobilidade. Até lá, precisamos criar mais estações, terminais, corredores exclusivos para ônibus e implementar tecnologias para o conforto e segurança dos passageiros, além de adotar medidas para financiar o transporte público.

O exercício de futurologia nos ajuda a identificar desafios e oportunidades. Já o exercício de “agoralogia” nos mostra o que precisamos fazer hoje para moldar o futuro. Mantendo a premissa de que o transporte público pode ser uma força positiva para o progresso e o bem-estar de todos, chegaremos a 2050 bem amparados.

*Artigo escrito por Daniel Bulha, diretor executivo da Abasp. 

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