Setor rodoviário de passageiros desconsidera etarismo e prioriza profissionais mais experientes na hora de contratar

O Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) corroborou algumas previsões feitas pelo próprio instituto: a população brasileira está envelhecendo. Maior expectativa de vida – hoje na faixa dos 77 anos – e a queda no número médio de filhos por mulher – nos anos 60 de 6,3 e atualmente 1,7 – ajudam a explicar o fenômeno. Outra estimativa do próprio órgão aponta que até 2030 o número de pessoas com 60 anos ou mais deve superar o percentual de jovens. No entanto, a inclusão dessa fatia da população no mercado de trabalho nem sempre é a ideal.
 

O etarismo – preconceito e discriminação baseados na idade de um indivíduo – já é considerado um problema global, resultando em longos períodos de desemprego até a aposentadoria – situação que deve ser acentuada devido aos fatores descritos acima. A boa notícia é que no setor rodoviário de passageiros, a pirâmide é exatamente inversa: há uma preferência na contratação de pessoas mais experientes, especialmente em uma das principais peças da engrenagem, o motorista – com o dia celebrado neste mês de julho.
 

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No Grupo JCA, por exemplo, detentor de grandes marcas de transporte como a Auto Viação 1001, Cometa e Catarinense, a média de idade dos profissionais ao volante é de 47 anos. De acordo com a diretora de recursos humanos da empresa, Simone Poubel, a busca por perfis mais experientes é uma marca da empresa, não se restringindo apenas às áreas operacionais, mas também passando pelas de gestão e apoio. “É uma política nossa essa busca por perfis de maior senioridade, especialmente em áreas onde as vivências são extremamente importantes nas tomadas de decisão”, comenta.
 

Ainda de acordo com Poubel, essa premissa contribui para que a média etária da empresa em todas as posições seja de 41 anos. Destaca ainda outro fator que contribui para esse indicador: a permanência desses colaboradores no Grupo. Há muitos cujo tempo de casa ultrapassa 10 anos.


Experiência e contribuição com a segurança nas viagens


Wilson Pereira de Oliveira, de 63 anos, é um dos que ajuda a alavancar esses dois indicadores – média de idade dos colaboradores e tempo de permanência. São 18 anos como funcionário do Grupo JCA, sendo cinco anos dedicados à Auto Viação 1001 e os outros 13 à Viação Cometa. O profissional já soma 25 anos de experiência ao volante. Durante esse tempo pôde acompanhar diversas transformações no setor e na própria companhia, como ampliação na estrutura, capacitação de profissionais e integração deles com demais setores, mas de acordo com ele uma coisa permanece intacta: a valorização aos profissionais mais experientes.


“Temos muita confiança por parte dos diretores e funcionários de escala. Em trechos onde é necessária maior atenção ou em fretamentos de maior complexidade, há uma preferência pelos colaboradores mais antigos por saberem que estamos inseridos na cultura da empresa, pela quantidade de capacitações que recebemos e, especialmente, pelo conhecimento de direção que contribui muito para oferecermos uma condução segura e confortável”, relata Oliveira.


Parar ainda não é uma opção para o experiente motorista. De acordo com ele, isso já poderia ter sido feito há oito anos, quando se aposentou, mas o amor pela profissão e a disposição ainda são bem maiores do que a vontade de largar o cockpit do ônibus. “Ainda tenho muita lenha para queimar. Faço academia, adoro correr e pedalar. Mesmo quando estou escalado, aproveito a estrutura que temos nas garagens para treinar e descansar bem. É claro que também tenho vontade de curtir ainda mais meus seis netos. Falo para eles que quando chegar aos 65 (anos) eu paro. Antes disso acho que não”, conta o motorista.