Mobilidade inclusiva: equipamento compartilhado transforma cadeiras de rodas em triciclos

A necessidade das pessoas que usam cadeiras de rodas se locomoverem com mais facilidade pelos espaços urbanos, além de praticarem atividade física, de esporte ou lazer, motivou a tecnologista Carla Guimarães, do Laboratório de Tecnologia Assistiva e Inclusão (LATAI) do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), a buscar uma nova solução de mobilidade. Foi assim que surgiu a ideia de desenvolver um equipamento para funcionar nos moldes das bicicletas de aluguel.

“Diferente do serviço convencional, no entanto, seria importante solucionar a questão sobre o que fazer com as cadeiras de rodas desses usuários, uma vez que deixá-las para trás não parecia uma boa solução. Então, foi desenvolvido o conceito em torno de um extensor: um equipamento que pudesse ser acoplado a qualquer cadeira de rodas, transformando-a em um triciclo, capaz de rodar em segurança com mais velocidade e facilidade de manobra”, relata Carla Guimarães.

A proposta foi mostrada à Prefeitura de Maricá, na região do Lagos do Rio de Janeiro, que virou parceiro da ideia, por meio da sua Secretaria de Assistência Social e do Conselho Municipal de Pessoas com Deficiência. Em 2021, o projeto Rodar sem limites: equipamento para inclusão e mobilidade foi aprovado na seleção do Programa de Apoio a Projetos Científicos e Tecnológicos em Mobilidade Urbana da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), que viabilizou a pesquisa, que já conta com um primeiro protótipo.

Testes biomecânicos nesse protótipo foram feitos no Centro de Estudos do Movimento do LATAI/INT, que está funcionando no Centro de Reabilitação de Maricá, fruto da parceria com o município. Os resultados dessas avaliações agora estão sendo analisados, para subsidiar as melhorias e ajustes necessários. Em outra vertente, o Laboratório de Caracterização de Propriedades Mecânicas e Microestruturais (LACPM) do INT seleciona os materiais que deverão ser usados no equipamento final.

“Para esta avaliação utilizamos o Ansys, um software avançado de simulação computacional multifísica, que avalia cada um dos componentes do extensor e do conjunto que o dispositivo forma com a cadeira de rodas. Assim, conseguimos reduzir a quantidade de testes experimentais de fratura e fadiga dos materiais, ao mesmo tempo em que temos acesso a mais resultados que permitirão à equipe a escolha dos melhores materiais, garantindo a segurança do usuário e o desempenho do equipamento”, explica o engenheiro mecânico Joan O’Connor, bolsista de pós-doutorado no INT pelo Programa de Capacitação Institucional (PCI) do CNPq.

O dispositivo é bem simples, consistindo em uma roda de bicicleta ligada a um volante controlado por único braço. Ao ser acoplado na cadeira, ele suspende ligeiramente as rodinhas da frente, que geralmente são mais frágeis e difíceis para ultrapassar os obstáculos das ruas.

“Com isso o usuário ganha em dirigibilidade, enquanto impulsiona sua cadeira da forma convencional: o que foi uma opção do projeto, já que a proposta é que o sistema incentive a mobilidade e a prática de exercício físico pelas pessoas que usam cadeiras de rodas”, complementa a educadora física Carla Guimarães, doutora em Engenharia de Produção.

O projeto também envolverá a criação dos totens, onde os extensores estarão disponíveis para retirada pelos cadeirantes, em áreas públicas e de lazer, sob gerência da Prefeitura de Maricá.