Dias atrás pedi um carro por um famoso aplicativo de Car a Service (CaaS), e durante o trajeto comecei a conversar com o motorista. Entre o papo a pergunta dele era qual o valor pago por mim pela corrida e, após eu dizer, ele me explicou o quanto ganhava e o que ficava à empresa.
Entendi o movimento, a taxa é rotativa, mas o valor que vai para o colaborador não é. Portanto, as reclamações foram aumentando, até que ele confessou que os motoristas estão se organizando para pedir a regulamentação do serviço. Neste momento, já me gelou a barriga, pois absolutamente todas as áreas econômicas passam por esse momento de alguma forma, e por mais que eles estejam com o intuito de melhorar os benefícios e seus trabalhos, isso pode ser um tiro no pé. Por quê?
Sistematicamente, imagine que você irá limitar o quanto a empresa que desenvolve app pode ganhar, isso poderá tirar o atrativo da criação de concorrentes que, por sua vez, podem oferecer muito mais a todos. Ou seja, ninguém irá investir em uma empresa que já está fadada a um teto máximo de ganho. Isso limitará as inovações que outras organizações ou até mesmo pessoas poderiam trazer para melhorar este serviço, principalmente quando se trata de qualidade no trabalho destinada aos motoristas.
Se formos pensar que essa empresa famosa a quem recorri para o meu trajeto é praticamente um monopólio, uma vez que os taxis geram um serviço diferente e se movimentam dentro do mercado de outra forma, o abuso devido a esse fator deve ser um ponto a se verificar. Mas o que devemos ter em mente é que a regulamentação não vai ajudar, pois ainda temos algumas saídas para esse problema, como a valorização das outras empresas existentes que não tem tanto espaço. Ou mesmo a possibilidade de pessoas que estão dentro desta espécie de monopólio se organizarem para trazerem novas tecnologias e abranger os serviços. Inclusive, com opções melhores aos motoristas.
O que devemos trazer a essa discussão é que quando você regulamenta, existe uma diferença enorme entre a lei, como ela é interpretada e executada. Como exemplo, a taxação em cima do cigarro tem o intuito que as pessoas parem de consumir, o que é bom à saúde das pessoas, mas esquecem-se, ou ao menos nem se preocupam, com o mercado paralelo do produto, que traz uma qualidade extremamente inferior e muito mais maléfica aos usuários. Inclusive, criou-se tecnologias para a comercialização abaixo dos narizes das autoridades.
Com essas manifestações por parte dos motoristas em relação à regulamentação dos valores, é muita ingenuidade acreditar que as leis irão beneficiá-los e que não terão nenhum efeito colateral prejudicial.
Outro exemplo na questão da regulamentação é a Anvisa, que autoriza os remédios que podem ser comercializados a partir de formulários preenchidos, investigações laboratoriais, etc., só que nunca ninguém mede o atraso até conseguir a autorização. Esse caminho burocrático causa muitas mortes anualmente, e isso é um efeito colateral da regulamentação, que pode ser irreversível. Sim, de fato a regulamentação evita mortes, com produtos de qualidade, mas e o outro lado da moeda?
Muitas vezes as pessoas não têm ideia de como a regulamentação impacta na sociedade, e como isso tira o incentivo para inovação.
Você pode me perguntar se sou contra todo tipo de regulamentação, não exatamente, mas totalmente a favor do pensamento crítico, de implementar indicadores, estudá-los e ver medições, garantir que atinja os verdadeiros objetivos, criar métodos de comparação de modelos. Desta forma, dar espaço para inovação e gerar eficácias nas necessidades básicas.
Muitas das riquezas e empregos gerados vem da inovação, portanto, quando alguém superar o famoso aplicativo, como ela fez com os taxis, a sociedade se beneficiará com um serviço melhor pelo mesmo preço, ou até mesmo mais baixo.
Esse é o meu manifesto contra a regulamentação do CaaS, pois quando alguém quiser abrir uma concorrência eficaz vai ser muito mais difícil, pois os mecanismos impedirão o investimento em inovação.