A demanda para que o RH seja criativo e inovador no processo de atrair e encantar os colaboradores não para de crescer. Diante das dificuldades vivenciadas diariamente por quem usa o transporte público para ir e voltar do trabalho, especialmente nos períodos de maior movimento, encontrar um caminho capaz de atenuar em cima desse problema pode ser um grande trunfo nesse sentido.
O Brasil é um dos países com o pior transporte público do mundo. Os brasileiros passam, em média, 2 horas por dia se deslocando para o trabalho. Isso sem falar nas situações de atrasos, roubos, furtos e superlotação em ônibus, trens e metrôs. Tudo tem impacto direto na qualidade de vida das pessoas. Não chega a ser uma grande surpresa, portanto, o resultado negativo apontado por um levantamento feito pelo Ipea: 60% da população avalia o transporte público como “ruim ou péssimo”.
O cenário pós-pandêmico traz um conflito que também é importante de se levar em consideração pelos profissionais de RH. De um lado, uma pesquisa da Fortinet apontou que 29% da força de trabalho vai permanecer remota para pelo menos metade das equipes. Enquanto isso, 57% dos brasileiros entrevistados pela Salesforce disseram que gostariam de permanecer no trabalho remoto, ao invés de voltar para o presencial. Os números simbolizam um evidente desalinhamento de interesses de empresas e colaboradores, o que representa um grande potencial de gerar insatisfação nas pessoas.
Tendo em vista todos esses obstáculos, há uma série de consequências que podem surgir diante desse cenário: queda de produtividade das equipes, insatisfação dos colaboradores e aumento no número de demissões. Segundo o que apontou uma pesquisa realizada pela Isma Brasil, 72% das pessoas estão insatisfeitas com o trabalho. Vale apontar também que, entre julho de 2021 e julho de 2022, o país registrou 6,5 milhões de pedidos de demissão de trabalhadores com carteira assinada. Trata-se de um recorde histórico.
Então, se você tiver interesse em manter seus colaboradores satisfeitos, vale a pena pensar em transformar a experiência deles com transporte em um diferencial estratégico. É algo que pode se mostrar muito interessante para atração e retenção de talento. Minha recomendação para isso é começar por cinco passos importantes:
- Conheça a jornada de quem trabalha presencialmente
É importante que o RH tenha consciência da jornada diária de cada colaborador no trajeto entre casa e trabalho. Procure entender quais são os desafios de cada uma dessas pessoas no uso do transporte público ou particular. Qual é a distância e o tempo desse deslocamento? Quais são as opções de modais que elas dispõem e utilizam?
- Reflita sobre o benefício oferecido pela empresa no quesito transporte
Esse levantamento deve ser completo. É fundamental, por exemplo, saber quantas pessoas recebem vale-transporte ou vale-combustível, além daquelas que usufruem de transporte fretado ou de ajuda para custear o estacionamento. Qual é o custo-benefício do contrato firmado com os parceiros desses serviços? Quanto esse gerenciamento demanda de trabalho do RH?
- Crie ou revise o plano de mobilidade da companhia
Após entender a necessidade e a realidade dos colaboradores e refletir sobre a oferta da empresa com relação à mobilidade dos funcionários, é hora de elaborar ou revisar o plano de maneira estratégica. Nele, devem constar as regras e políticas de uso do transporte, garantias de segurança dos passageiros e a postura da empresa com relação a direitos, deveres e imprevistos.
- Considere otimizar o uso de fornecedores
Quanto menos fornecedores sua empresa tiver, ou seja, quanto mais os produtos e serviços forem centralizados em um único parceiro, maior será a facilidade na hora de administrar o que se contratou. Essa iniciativa tende a reduzir significativamente o trabalho do RH.
- Agregue tecnologia ao benefício
É uma iniciativa altamente estratégica utilizar ferramentas e softwares para agregar mais eficiência ao benefício. Nos casos do transporte dos colaboradores, vai ajudar muito se for possível oferecer aos funcionários um fretamento inteligente, ou seja, aquele que, com o apoio de soluções de tecnologia, os trajetos sejam traçados de acordo com o endereço da residência de cada colaborador em relação à localização da companhia, com controle de embarque e desembarque dos passageiros e o desempenho do motorista.
Se o plano de transporte dos colaboradores for bem estruturado e executado, ele se tornará um diferencial estratégico da empresa não só para a atração e retenção dos talentos, mas também para o aumento da produtividade e a redução do absenteísmo. Afinal, a qualidade de vida e o expediente de cada um de nós no trabalho presencial começa a ser calculada assim que damos o primeiro passo fora de casa rumo ao trabalho.
* por Antônio Carlos Gonçalves, CEO do Fretadão