Desde que chegou ao Brasil, em maio de 2014, a Uber ficou por dois anos sendo a única empresa do setor na cidade de São Paulo. Em 2016, a Prefeitura de São Paulo regulamentou, por meio de um decreto, os aplicativos de carona, o que serviu para dar um boom nesse mercado.
A espanhola Cabify inicou operações na capital nos últimos meses. A Easy Taxi também lançou recentemente um serviço nos mesmos moldes, o EasyGo. E, agora, foi a vez de a 99Taxis começar a oferecer carros particulares com o 99Pop.
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A Prefeitura de São Paulo tem um controle para que os carros de aplicativos não superem a quantidade média de quilômetros percorrida pelo equivalente a 5.000 táxis brancos. Empresas como a Uber não têm um limite de carros, mas sim de quilômetros, e pagam por isso.
A SP Negócios diz que o preço do quilômetro pode sofrer aumento em relação aos R$ 0,10 praticados hoje. Isso acontecerá se o limite total da cidade estiver próximo de ser atingido. A Cabify é a única empresa que afirma não ter repassado esse custo aos clientes. As demais cobram do passageiro.
As tarifas cobradas pelos aplicativos chegam a ser em torno de 40% mais baratas do que o táxi. Isso o cliente já percebeu. Agora eles começam a comparar as plataformas, para ver qual delas oferece o melhor custo e benefício.
A dúvida é: com tantas opções, como ficará o mercado dos aplicativos de carona em São Paulo? Os preços vão permanecer acessíveis? A qualidade vai cair? A reportagem do portal R7 conversou com gerentes e diretores de algumas das empresas que atuam nesse setor para descobrir.
Uber
A Uber baixou as tarifas em 15% no fim do ano passado e mantém assim até hoje. São frequentes as queixas de motoristas parceiros, que dizem que precisam trabalhar mais para ganhar o que ganhavam antes.
A empresa não disponibilizou ninguém para falar sobre o tema, mas enviou respostas sobre alguns questionamentos.
“Com base em dados das mais de 400 cidades nas quais atuamos, verificamos que ao reduzir os preços, temos como resultado o aumento da demanda por carros. Com isso, os motoristas parceiros fazem mais viagens e continuam gerando tanta renda quanto antes, chegando a ganhar mais. O aumento na demanda significa que os parceiros passam a fazer mais viagens por hora e ficam menos tempo rodando entre uma viagem e outra. Os preços precisam ter esse equilíbrio”.
A respeito do aumento do número de aplicativos de carona, a Uber afirma que “vê a competição nesse setor como algo positivo, já que permite ao usuário e ao motorista parceiro terem mais escolhas sobre como se locomover pelas cidades e gerar renda”.
A empresa norte-americana levou cinco anos para atingir 1 bilhão de viagens no mundo todo. Porém esse número duplicou em apenas seis meses. “Acreditamos que cada vez mais pessoas irão escolher deixar seus carros em casa, ou até deixar de ter carros, para se locomover pela cidade ao toque de um botão, ou para usar outros modais, como ônibus e metrô”, diz a companhia.
Cabify
Com operações na Espanha, em Portugal e em outros países latino-americanos, a Cabify começou a atuar em São Paulo no mês de junho e foi a primeira empresa regulada pelo decreto municipal.
Com uma política de preços e uma estratégia de mercado um pouco diferentes da Uber, ela aposta na qualidade para conquistar os clientes.
O gerente de operações e logística da Cabify no Brasil, Daniel Velazco-Bedoya, afirma que os preços praticados pelo app estão adequados ao momento.
“Os valores atuais são interessantes para quem quiser comprar um carro e trabalhar mesmo. No momento atual, eles fazem sentido, mas uma redução maior nesses preços já começa a deixar bem limitante essa dinâmica de trabalho. É possível que alguma empresa queira puxar [os preços] para baixo. Nós na Cabify não focamos em uma disputa praticamente por preços.”
Ele acrescenta que a empresa busca um equilíbrio entre oferta e demanda para evitar excesso de motoristas nas ruas.
“A gente tem [na fila] para entrar na Cabify mais de 25 mil motoristas. Eu prefiro colocar só uma quantidade suficiente, de forma que existam pessoas satisfeitas com o trabalho. […] Lógico que a gente tem investido no crescimento da demanda. Mas se o crescimento dessa demanda for menor, eu prefiro segurar o número de carros.”
Na visão dele, há espaço para diversas empresas no mercado, mas é preciso deixar de lado somente a ideia de preço baixo.
“Nós entendemos que esse mercado é composto por uma cesta de consumo. A pessoa não simplesmente vai de A a B. Ela pode querer algo mais simples, mais luxuoso, pode querer uma van. Uma vez que você entende isso e posiciona a empresa para conquistar esses nichos, tem um mercado infinito em São Paulo. Se você for trabalhar focado no mesmo nicho, como uma commodity, a mesma entrega, para o mesmo perfil de pessoa, etc., aí sim, o mercado tende a ficar bastante limitado.”
EasyGo
Fernando Matias, diretor-executivo da Easy Taxi, conta que a empresa já atuava com carros particulares em outros países e aguardava a regulamentação do serviço em São Paulo. Segundo ele, foram considerados três fatores fundamentais na hora de lançar o EasyGo.
“Preço, qualidade e tempo de espera pelo carro. O Brasil é um mercado um pouco mais sensível a preço. Mas a gente entende de forma diferente a questão da precificação. Não temos um preço mínimo para corrida. Quando a gente pega distâncias curtas e corridas rápidas, acabamos sendo mais atraentes. Também não temos preço dinâmico.”
Em relação aos concorrentes diretos – UberX, Cabify Lite, Televo Pop e WillGo Smart (confira tabela abaixo) – o EasyGo é levemente mais caro, apesar de ser entre 35% e 40% mais econômico do que a do táxi comum. Porém, essa foi uma escolha dos gestores, explica Matias.
“A gente trouxe alguns projetos principalmente para os motoristas, para que o nosso serviço seja financeiramente bom para ele. Por isso, a nossa tarifa ficou um pouco acima do concorrente, apesar de em alguns momentos ser mais barata, e também jogamos a taxa paga pelo motorista mais para baixo [20% contra 25% da Uber]. Pensamos muito na renda dele.”
Ele avalia que pode até ser que algumas empresas queiram reduzir os preços, mas que isso pode acabar se tornando insustentável, principalmente para o lado do motorista, que tem custos altos com o carro. Na opinião do diretor, o público em São Paulo não é tão sensível a pequenas variações de preço.
“É importante você ter um preço atrativo, mas é fundamental que o tempo de espera pelo serviço seja rápido. Não posso cobrar uma tarifa menor e entregar um carro em meia hora. Um aplicativo que fique dando problema o tempo todo também afasta o usuário. São elementos que andam juntos.”
Segundo o CEO da Easy Taxi, os aplicativos de carona vão ganhar cada vez mais espaço nos próximos anos.
“A gente acredita que é um mercado que ainda vai crescer muito. Uma parte pequena da população utiliza serviço de táxi ou carro particular. Então, tem um potencial grande para atrair novos consumidores, a partir do momento em que você vai melhorando a qualidade do serviço e deixando o preço mais atraente.”