Com o objetivo de abordar os aspectos estruturais da crise no País, os desafios do presente e as perspectivas de futuro, incluindo o tema mobilidade urbana, o cientista político Carlos Melo fez uma análise profunda e polêmica do atual cenário político do Brasil durante a sua palestra “O Brasil e seu labirinto: do esgotamento estrutural à crise nacional”, realizada no Seminário Nacional da NTU 2016, nesta terça-feira (23), em Brasília.
Na avaliação do especialista, o País passará por momentos difíceis, mas que apontam para um futuro que promete mudanças consistentes com ganhos para todos a longo e médio prazo. Segundo ele, o governo do presidente interino da República, Michel Temer, é suscetível à pressão, mais que os governos anteriores. Por isso, o setor tem que elaborar um discurso político a respeito da reforma urbana e fazer um enfrentamento à cultura do automóvel.
Com relação à mobilidade urbana, o cientista político – que é mestre e doutor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor do Insper – faz a seguinte reflexão: “Tem que discutir a educação? Sim, mas como professores e alunos chegarão à escola? Quer discutir trabalho? Mas como o trabalhador chegará ao seu trabalho? Tem que discutir leis trabalhistas, educação… mas as pessoas precisarão chegar aos locais. Não dá para pensar no país parceladamente”.
Ainda sobre o assunto, Carlos Melo avalia que é preciso definir prioridades. “Ou se pensa de forma sistêmica e crítica, ou não se mudará nada”, afirma. O cientista, que também é autor do livro “Collor: o ator e suas circunstâncias”, afirma que ainda vivemos uma grande crise de liderança política. “O país precisa de uma nova geração de políticos para fazer um bom diagnóstico, construir um projeto e, mais importante, comunicar e persuadir a nação, de forma geral, de que é necessária uma mudança”.
De acordo com Carlos Melo, existem saídas para que o país vença os desafios desse cenário de crise político-econômica. Acredita que é necessário fazer reformas: da previdência, tributária, fiscal, trabalhista, política e urbana para lidar com todos os problemas da mobilidade. E aponta para um dos grandes desafios dessa jornada. “O grande problema é: com que sistema político vai-se fazer isso. Porque uma vez que se tem um colapso do sistema político, tem-se também um colapso de liderança. O Brasil vive, no momento, em um labirinto e é necessário buscar saídas. ”
Em outra análise, o palestrante reconhece que reforma política tem perda para os políticos. Que reforma urbana atinge o automóvel particular, mas tudo o que precisa ser feito, segundo ele, vai afetar o status quo, seja de quem for. “Do político, do cidadão comum, de prefeitos e governadores, da presidência, de atribuições dos entes federativos… todo mundo vai perder alguma coisa caso queiramos reformar globalmente o país.”
AVALIAÇÃO DO GOVERNO
Para comentar o desempenho do atual governo, o cientista citou um levantamento em que 14% da população o considera como ótimo ou bom; 42% como regular e 31% como ruim ou péssimo. Já o Congresso Nacional, 40% como regular e 43% como ruim ou péssimo. Para Carlos Melo, quando o processo de interinidade do atual governo passar, o Planalto sofrerá com o aumento das pressões do mercado, corporações e do próprio Congresso. Além disso, a janela de oportunidade será muito pequena. Na opinião do especialista, na área econômica, haverá reformas estruturais, mas elas serão superficiais e lentas.