Quem pensa no pedestre nas nossas cidades?

Imagine uma reunião no departamento de trânsito da prefeitura de uma grande cidade. O pessoal está discutindo os impactos de uma novo empreendimento, um shopping, por exemplo. Alguém diz que é preciso aumentar a alça de acesso para o fluxo de carros. Outro diz que seria bom colocar um ponto de ônibus em frente. Outro ainda lembra que seria útil ter um bicicletário. Quem pensa no pedestre? Quem é que vai lembrar de acessibilidade, conexões, calçadas, semáforos, faixas de pedestre?

Em Brasília, já existe uma função justamente para pensar nisso, a Diretoria de Mobilidade a Pé, ocupada pela administradora e mestre em transportes Adriana Souza. Esse é um cargo que provavelmente vai ser copiado por muitas cidades brasileiras. Fora do Brasil isso já acontece em várias cidades, como em Buenos Aires, por exemplo.

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Brasília não é nada fácil para quem está a pé. As distâncias são enormes. As ruas são larguíssimas. Você olha para a esplanada dos ministérios e vê quilômetros e quilômetros de gramado, com pouca sombra e dá uma preguiça enorme de atravessar a rua. Por outro lado, a cidade foi pioneira numa campanha de respeito às faixas e o resultado é que desde 1997, o pedestre pode acreditar que os carros vão mesmo parar para ele atravessar. Além disso, as superquadras têm um trânsito interno grande de pedestres, através dos térreos abertos.

Adriana Souza diz que andar a pé em Brasilia é mesmo diferente do que qualquer outra cidade brasileira: ”o que os seus olhos enxergam nem sempre os seus pés alcançam”.

Numa cidade assim, o desafio de Adriana Souza é introduzir novas formas de pensar. Para isso, ela tem que construir um Plano de Mobilidade a Pé, negociando com seus pares no Governo, que são os responsáveis pelos outros modais: “ A disputa da mobilidade a pé com meios motorizados de transporte, já deveria ser coisa do passado. Todos nós entendemos que as cidades são feitas para as pessoas, porém precisamos começar a colocar isso em prática. Quando falamos de Brasília, especificamente, o incentivo da mobilidade a pé esbarra em uma cultura de dependência do automóvel, para o deslocamento, que chega ser absurda. O que precisamos imediatamente em Brasília é parar de repetir que a capital não foi feita para os deslocamentos a pé, pois isso todo mundo já sabe, precisamos reverberar que mesmo sendo uma cidade planejada para o automóvel, Brasília se transformará em uma cidade mais humana e mostrará ao mundo que as cidades sempre serão o maior espaço de troca e convívio dos seres humanos”.

Em outras palavras, os pedestres agora terão alguém que gosta de caminhar pela cidade e pense neles quando for discutir a mobilidade. Não é pouco, ao contrário, é auspicioso e poderia inspirar outras cidades a fazerem o mesmo!

Em São Paulo, já se instituiu uma secretaria de mobilidade ativa. Que seja o primeiro passo para colocar o pedestre no centro da conversa sobre a cidade que queremos. No dia do pedestre, que é hoje, essa seria uma boa pauta para cobrar dos candidatos a prefeito de São Paulo.

* As informações são do jornal O Estado de São Paulo

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