Empresas debatem papel da tecnologia nos transportes públicos

Cada vez mais questões determinantes para o transporte público estão associadas às novas tecnologias. Na gestão das operações, no planejamento e fiscalização por parte do poder público e, mais do que nunca, na busca por uma melhorar experiência para os passageiros. Na manhã desta quarta-feira (24), segundo dia do Seminário Nacional NTU 2016, executivos do setor e especialistas participaram da Oficina de Sistemas Inteligentes de Transportes para discutir sobre o uso das novas soluções digitais no mercado, combate a fraudes e monitoramento de frotas no contexto de uma sociedade cada vez mais dinâmica, exigente e bem informada.

A experiência do usuário no centro de tudo

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“Estamos vivendo a principal transformação depois da revolução industrial: agora é a revolução digital, e nela não existem perdedores. Existem apostas”, afirmou Percival Jatobá, da Visa Brasil, no debate sobre o uso de novas tecnologias em prol dos transportes. O executivo mostrou que hoje somente 30% dos pagamentos realizados por pessoas físicas no país ocorrem por meios eletrônicos e que o segmento vive um momento de desconstrução do cartão de crédito tradicional, migrando para novos suportes, como anéis, relógios, smartphones. E com o setor de transportes não será diferente. Todos esses novos meios, ou mesmo os cartões tradicionais poderão ser um dia usados para o pagamento de bilhetes nos ônibus, por exemplo. Percival Jatobá enfatizou que a Visa Brasil está aberta ao compartilhamento de práticas entre o mercado de meios de pagamento e a indústria de mobilidade. “Cocriação é o nome do jogo”, concluiu, referindo-se à necessidade de integração das soluções de tecnologia.

Na mesma direção, o dirigente da IBM, Giam Pierro Di Giuseppe, chamou atenção para o fato de que a integração multimodal busca diminuir o tempo de deslocamento do usuário e que isso depende de integração entre os diferentes agentes do setor, como prefeituras, empresas e demais prestadores de serviços. E a liga que viabiliza essa integração está na tecnologia. Como destacou Fernando Lemos, da Oracle, grande parte das pessoas que consomem os serviços públicos de transporte são jovens, que nasceram já nessa cultura digital, na qual se busca mobilidade, agilidade e qualidade ao mesmo tempo. Fernando Lemos comentou ainda sobre a importância do diálogo do setor de transportes com outros nichos, em especial, as startups, que desenvolvem cada vez mais aplicativos com serviços para mobilidade urbana.

Rômulo Perini, da Play, comentou sobre o consumo de informação por parte dos usuários, que buscam nos aplicativos orientação para uma locomoção mais rápida no dia a dia. “Muitas startups desenvolvem aplicativos para mostrar quais o melhores modais naquele determinado dia, seja ônibus, bicicleta ou ir a pé. Isso traz uma visão de tempo e custo para o usuário”, disse.

O transporte e a internet das coisas

Forte tendência mundial, a chamada internet das coisas roubou a cena no debate. Ainda tímido no Brasil, esse tipo de tecnologia promete revolucionar não só a experiência do usuário, mas a gestão das empresas. Pneus e pastilhas de freio com sensores, pontos de ônibus onde se pode contratar pacotes de wi-fi ou comprar bilhetes são alguns exemplos de como a internet pode revolucionar a experiência dos passageiros e das companhias.

Nesse sentido, os motoristas também são um público importante. Com sensores instalados no sistema de freios dos ônibus já é possível mapear o comportamento dos motoristas na direção dos veículos e, de acordo com o resultado, desenvolver ações educativas ou premiar aqueles cuja conduta contribui para uma melhor preservação dos equipamentos e segurança dos passageiros. “Podemos saber como o motorista está dirigindo, freando, fazer uma política de bonificação para aqueles que têm melhor desempenho. Assim, trazemos de volta para o motorista o benefício desse comportamento positivo dele”, concluiu Fernando Lemos, da Oracle.

Mas, como implementar soluções tão customizadas e integradas sem a definição de padrões? Essa foi uma das questões colocadas por Tironi Paz Ortiz, da Imply, para quem o grande desafio para a internet é a criação de mecanismos para que os sistemas das empresas possam conversar entre si e com o governo. “Com padrões podemos integrar as tecnologias e promover uma melhor experiência ao usuário e menor custo para as empresas”, afirmou Tironi Paz Ortiz.

Biometria no combate a fraudes

No debate sobre o uso de biometria para o controle de fraudes, o mediador Luiz Claudio Rocha, da Transfácil, ponderou que a população passa por um processo de envelhecimento ao passo em que existe um grande apelo social pelas gratuidades, contexto que desafia as empresas a fornecer o serviço, arcando com os custos e com os prejuízos causados por fraudes. Luiz Claudio Rocha apresentou dados sobre o uso de biometria em diversas cidades brasileiras, como Belo Horizonte, que implantou a tecnologia em 2011 e Campinas que passou a usar a ferramenta neste ano. “Manaus, que usa reconhecimento facial desde novembro de 2015, conseguiu grande redução de fraudes após a implantação desse sistema”, disse.

Milton Antônio, da Empresa 1, mostrou que as decisões de bloqueio ou cancelamento do benefício de gratuidade, porém, deve ocorrer somente a posteriori, após processamento e análise dos dados, visto que a tecnologia, apesar de um alto índice de acerto, não é infalível.

A biometria, no entanto, não veio para cuidar somente dos usuários com gratuidade. Como disse João Paulo, da Dataprom, aqueles que pagam passagem com integração temporal também precisam de controle. “No momento da integração, a pessoa pode usar indevidamente, passando o cartão para que outro siga em seu lugar”, disse. Mas, como capturar fotos de todos os usuários de vale transporte para o controle biométrico? João Paulo explica que já existe tecnologia para comparar as imagens capturadas nos diferentes momentos da integração. “Se a imagem é diferente, indica fraude”, explicou.

Gestão de frotas

Por fim, no debate sobre gestão de frotas, os especialistas falaram sobre como otimizar os recursos das operações provendo serviço de qualidade para o usuário, com a disponibilização de ônibus em quantidades adequadas para a prestação do serviço conforme a demanda e sem capacidade excedente. “As empresas têm que aproveitar a tecnologia da geolocalização e trazer benefícios que gerem ganhos operacionais”, afirmou Ricardo Yada, da Man Latin América.

Luiz Eduardo Lozer, da Geocontrol, explicou que integração é essencial para que a telemetria funcione na gestão das frotas. “Não dá mais para um fornecedor de telemetria e um de planejamento terem sistemas que não conversarem entre si, porque o ganho efetivo é justamente na integração”.

Público recorde

Na cerimônia de encerramento do Seminário Nacional NTU 2016, o diretor da Associação Nacional dos Transportes Urbanos, Marcos Bicalho, agradeceu aos participantes e enfatizou a importância dos debates promovidos sobre o setor. “Conseguimos trabalhar as ideias que estão surgindo e os caminhos que vamos seguir a partir da Emenda Constitucional nº 90”, afirmou Marcos Bicalho referindo-se ao novo momento do transporte público como direito social no Brasil, tema central do seminário. O diretor da Associação Nacional dos Transportes Urbanos destacou ainda que esta edição do evento obteve um público recorde, com mais de mil inscrições.

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