A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) executa extensa e complexa bateria de testes em oito trens novos, no pátio e na oficina de Presidente Altino, Osasco. “A maioria dos testes ocorre durante a madrugada e os trens somente serão liberados para circulação comercial quando as verificações estiverem concluídas e aprovadas”, informa o engenheiro de manutenção e rodagem, Marcus Vinícius. Após a aprovação, serão incorporados à frota dos trens metropolitanos, atualmente integrada por 135 trens que circulam nas seis linhas.
Inovadoras, as composições estão equipadas com sistema de segurança, vigilância e comunicação modernos, além de possuírem recursos de acessibilidade, informação e conforto.
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Eles compõem o lote de 35 trens, série 8500, adquiridos da empresa espanhola CAF. Além desses, a CPTM encomendou mais 30, série 9500, à empresa Hyundai Rotem (fábrica em construção na cidade de Araraquara), totalizando 65 novas unidades. “Antes mesmo de sair da fábrica em Hortolândia (interior paulista), as novas composições passaram por testes funcionais e de inspeção para verificar se foram produzidas em conformidade com o projeto”, destaca Vinícius.
Cada composição tem oito carros, 170 metros de comprimento e capacidade para conduzir 2 mil passageiros. Para transportá-las da fábrica até a oficina da CPTM o trem é desacoplado – separado carro a carro – e cada um dos carros segue num caminhão, formando um comboio de oito veículos. O trem chega à oficina da CPTM “todo envelopado (com plásticos) e protegido”, diz o engenheiro Wanderson Nunes Martins.
A primeira tarefa da equipe especializada da CPTM – formada por engenheiros, maquinistas e pessoal da manutenção – é acoplar a composição e “averiguar se não há descontinuidade funcional entre os carros e verificar tanto a parte mecânica quanto a elétrica”, relata Vinícius. “Se houver alguma irregularidade, executamos os trabalhos para acertar as falhas e fazer os ajustes.” Esse processo se repete a cada composição.
Inovação
“A diferença visual de maior impacto desses trens em relação aos demais em circulação é a altura da frente (maior) e a aparência mais bem acabada conseguida com a fixação de um anteparo lateral, chamado carenagem, na parte superior do vagão, que esconde parte das instalações”, aponta Vinícius. Outras inovações originaram-se de recursos tecnológicos. Os espelhos retrovisores foram substituídos por câmeras de vídeo instaladas a cada dois carros e nas laterais, totalizando oito equipamentos em cada unidade.
Há outras duas câmeras dispostas na cabine do maquinista “para melhorar a visão geral”, justifica Vinícius. “Mesmo que o trem pare numa estação em curva, o maquinista terá visão da composição inteira”, acrescenta Martins. As cabines dispõem de computador com informações dos sistemas de operação. “É como a caixa-preta de avião. Há gravação de voz e imagem. Em caso de acidente, podemos extrair informações”, diz Vinícius.
Na cabine há, também, equipamento de identificação biométrica (digitais dos operadores) para garantir que somente o condutor cadastrado possa operar o veículo. O equipamento que faz contato do trem com a rede elétrica, o pantógrafo, recebeu câmera de vídeo que permite ao maquinista verificar eventual falha e providenciar o ajuste. O engenheiro destaca que os maquinistas passarão por capacitação para operar esses novos trens.
Outro item de segurança é o sistema de extinção de incêndio afixado na parte externa, em três pontos do carro e em cinco pontos de extinção e de detecção de incêndio (fumaça) dispostos no interior de cada carro.
Acessível
Cada vagão dispõe de estribos nas portas que diminuem o vão entre o trem e a estação, facilitando a entrada de cadeiras de rodas, que têm um lugar específico, como ocorre com assentos destinados a idosos, gestantes e passageiros com deficiência.
A identificação do número (também em braile) do trem e do carro está afixada na parte superior da porta de cada carro. “A identificação imediata facilita a comunicação do passageiro com a CPTM”, ressalta o engenheiro. Em cada carro há 12 monitores de alta definição instalados para divulgação de informativos da instituição, peças de marketing ou lazer (filmes).
As telas com informação das estações da linha estão afixadas acima das portas. Um luminoso com o nome da estação fica disposto na parte superior da passagem livre entre os carros (open gangway), além de outros dispositivos de sinalização interna. Os assentos são estofados, há ar-condicionado e iluminação com lâmpadas led. As janelas, com fecho automático, somente poderão ser abertas em caso de falha na refrigeração.
Validação
O primeiro trem da linha de fabricação entregue passa por averiguação rigorosa e complexa chamada de trem-tipo. “Além de comprovar o funcionamento dos sistemas que integram o veículo, os testes de trem-tipo validam as funções previstas atribuídas aos sistemas e atestam o desempenho dos trens do lote”, explica Vinícius.
São verificados os sistemas de alimentação elétrica principal e auxiliar, produção e distribuição de ar comprimido, tração, freio, sinalização e controle de bordo, registro de eventos operacionais, portas do salão, sonorização e difusão de mensagens audiovisuais, climatização e detecção e extinção de incêndios. Esses testes demandam um tempo estimado entre 8 e 16 semanas.
No trem número 1 sacos de areia são usados para simular o peso de passageiros sendo transportados durante a bateria de testes. “Havia galão de água com sabão para verificar o sistema de frenagem (semelhante ao ABS dos carros)”, compara Vinícius. “Os demais trens passam por testes, chamados de trem-série, dinâmicos, em via, com a finalidade de comprovar o funcionamento dos sistemas já que o desempenho foi avaliado no trem-tipo.”
Multimídia
“Nos testes de trem-série demos mais atenção aos sistemas relacionados à circulação com segurança, sistema de tração, freio, sinalização e controle de bordo”, esclarece Vinícius. O tempo de averiguação de cada trem oscila entre duas e quatro semanas. Além dos funcionários da CPTM, equipes de outras empresas participam dos testes de segurança operacional das composições.
O trabalho reúne ainda funcionários da fabricante (CAF), especialistas alemães e espanhóis que cuidam do sistema de frenagem, além de profissionais suíços responsáveis pelo novo sistema de sonorização.
“Os trens terão sistema multimídia amigável. No caso de precisarmos mudar o nome de uma estação, por exemplo, a CPTM fará a alteração no software sem precisar pedir à empresa responsável, como ocorre atualmente”, salienta Vinícius.
Fonte: Claudeci Martins (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo)