Na esquina da Rua Vieira de Morais com a Avenida Washington Luís, no Campo Belo, zona sul, repousa há um ano e meio uma viga de 90 toneladas que despencou sobre operários da obra da Linha 17-Ouro do monotrilho, matando Juraci Cunha dos Santos, de 25 anos, e deixando outros dois feridos. A cena simboliza uma obra que, até agora, só degradou a região e irrita comerciantes e moradores.
No Hotel Blue Tree, a obra deixou infiltrações e rachaduras em uma sala. A coordenadora de serviços exclusivos, Camila Damiani, de 28 anos, afirma que a obra “desvaloriza” o imóvel. “Ter uma sala de eventos que fica fechada é prejuízo”, diz. Ela conta que os hóspedes não gostam de ficar em quartos voltados para o monotrilho.
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Logo depois do hotel, há mais um canteiro de obras. Em vez de operários no local, homens cortavam o mato que cresce entre estruturas metálicas já enferrujadas. Os tratores e outros veículos usados pela construção civil estavam estacionados.
Frustração
Na Rua Xavier Gouveia, moradores se mostram insatisfeitos com a poluição visual da linha, o atraso na entrega e os danos nos imóveis.
A gerontóloga Beth Macedo, de 52 anos, demonstrava felicidade de saber que o monotrilho que é visto da sala e da cozinha de seu sobrado poderia chegar até a Linha 1-Azul, até saber que os planos tinham mudado e que não há mais prazo para a obra. “Isso é inacreditável. Vamos ter uma obra dessa no quintal de casa, fazendo barulho, com gente olhando para dentro da minha residência, de uma obra que leva do nada para lugar nenhum”, diz.
Vizinha de Beth, a aposentada Maria Eugênia, de 67 anos, conta que seu sobrado, antes avaliado em R$ 1,2 milhão, teve o preço reduzido para R$ 800 mil. Ela tem vontade de sair, mas teme o prejuízo. “Agora eu nem sei mais o que fazer. Parece que não vai ficar pronto nunca. Só espero estar viva para ver a linha funcionando e valorizar novamente meu imóvel.”
Para o diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, Valter Caldana, as queixas são pertinentes. “Os monotrilhos, à medida em que geram uma agressão à paisagem, acabam refletindo na sociedade um sentido de rejeição”, diz.
O Metrô informa que a empresa e o consórcio “monitoram todas as interferências relativas às obras, fazendo os reparos necessários nos imóveis”. O consórcio já foi notificado para que “providencie melhorias nas condições dos canteiros” e a viga não foi retirada porque a Superintendência Regional do Trabalho “ainda não liberou o lançamento das vigas curvas”.
* As informações são do jornal O Estado de São Paulo