A implantação no Brasil das chamadas Short Lines, pequenas ferrovias que operam em ramais secundários, pode ser uma solução para aumentar a presença das ferrovias na matriz modal do país.
Esta é a conclusão de lideranças setoriais e representantes do governo que participaram do workshop “Short Lines: o sucesso da experiência norte-americana seria possível no Brasil?” realizado na tarde desta terça-feira, dia 3 de novembro.
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O encontro fez parte da programação do primeiro dia da NT Expo – 18ª Negócios nos Trilhos, principal evento do setor metroferroviário da América do Sul, que acontece até quinta-feira, dia 5 de novembro, no Expo Center Norte, em São Paulo.
“É o assunto do futuro nas ferrovias brasileiras. O governo precisa estar atento a este aspecto das Short Lines na renovação das concessões, para termos investimentos”, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate.
Ele coordenou o workshop, que contou com a presença de José Luiz de Oliveira, coordenador-geral de Patrimônio Ferroviário do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes); Jean Pejo, representante no Brasil da ALAF (Asociación Latinoamericana de Ferrocarriles); Carlos Nascimento, diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres); e Ed McKechnie, CCO e também Chairman da American Short Line and Regional Railroads Watco Companies.
Jean Pejo, da ALAF, considera a implantação de Short Lines o caminho mais curto para o crescimento da participação das ferrovias na matriz modal brasileira.
“Temos muitos trechos inutilizados no país, pois o atual modelo privilegia os grandes corredores. Estatísticas mostram que a ocupação efetiva das vias ferroviárias é de apenas 30% da rede sob concessão”, explica.
Para ele, o exemplo positivo dos Estados Unidos serve como parâmetro para confirmar o caráter benéfico do modelo. Lá há 550 Short Lines que ocupam cerca de 50 mil milhas de malha, envolvem 17 mil empregados e movimentam a carga de 10 mil clientes.
“Se já não bastassem estes números, temos, ainda, um caso de sucesso de Short Line no país que é a Ferrovia Tereza Cristina, em Santa Catarina. O modelo desenvolve a indústria local, cria novos negócios na região, promove a revitalização do entorno beneficiado, propicia transporte de passageiros, não envolve problemas com desapropriações e fomenta a tecnologia, inovação e formação de mão de obra”, completou.
Ferrovias fechadas
José Luiz de Oliveira, coordenador-geral de Patrimônio Ferroviário do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), utilizou o seguinte argumento para defender o modelo de Short Lines: evitar a desativação de mais ferrovias no Brasil.
Ele cita o processo da Ferrovia Centro-Atlântica, que teve trechos desativados em virtude da resolução 4131 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Cedemos muitas áreas para prefeituras que, ao invés de reativar a linha para passageiros, por exemplo, preferiram transformas em áreas urbanas”, recordou.
José Luiz de Oliveira considera que o processo para a implantação de Short Lines no País deve envolver governo e iniciativa privada: “É um caminho que devemos trilhar juntos. É um modelo que atende concessionárias, dispostas a abrir mão de trechos não-econômicos (que não são rentáveis), governo, que não quer receber estes trechos volta, e mercado, que precisa transportar a carga. Precisamos de um modelo e uma alternativa é a Parceria Público-Privada”.
Carlos Nascimento, da ANTT, também é favorável, mas disse que o processo vai requerer muito esforço. Ele sugeriu dois modelos possíveis: Acordo com com a concessionária do trecho para explorar um trecho não rentável; ou autorização para o transporte ferroviário desvinculado da infraestrutura ferroviária.
“Estamos dispostos a apoiar as Short Lines. Fizemos um estudo com o apoio da Universidade de Santa Catarina que mostrou termos no País 6 mil quilômetros de malha com menos de um trem por dia circulando. É um índice muito baixo”, observou.