O vale do Anhangabaú, um dos símbolos do centro de São Paulo, deverá passar em 2016 pela quarta grande transformação de sua história.
A ideia é devolver ao local um pouco da sua concepção urbana original –quando ali, no início do século passado, a várzea natural deu lugar a um parque público.
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Agora, o plano da gestão Fernando Haddad (PT) é fazer com que o Anhangabaú volte a reunir paulistanos para shows e grandes eventos em uma esplanada. O local terá ainda bancos espalhados para até 1.500 pessoas.
A estrutura de uma fonte, hoje abandonada, será retirada para desobstruir a passagem entre os dois trechos da avenida São João.
No centro do vale, a novidade serão espelhos-d’água móveis –os jatos, com água de reúso, poderão ser desligados em eventos maiores.
Árvores voltarão a demarcar as ruas do entorno.
“O vale não tem vida hoje, porque ele não tem borda. Com ela ativa, o espaço voltará a ser bom para o uso público”, diz Gustavo Partezani, diretor da SP Urbanismo, empresa ligada à secretaria de Desenvolvimento Urbano.
O plano de reurbanização inclui pista de skate e quiosques com cafés, bancas de jornal e banheiros.
A prefeitura fará licitação para a obra, que deverá custar cerca de R$ 100 milhões. A previsão é começar a reforma no ano que vem.
URBANIZAÇÃO
Até o final do século 19, a região do Anhangabaú era usada para plantações, como as de chá, e lavagem de roupa nas águas do rio.
A ideia de urbanizar o trecho entre a rua Libero Badaró e a área onde hoje está o Theatro Municipal só surgiu no início do século passado.
Segundo o arquiteto Pablo Herenú, foi nesta época que o vale deixou de ser um obstáculo geográfico para virar um espaço público –o parque Anhangabaú.
O parque, entretanto, não durou muito, e as grandes avenidas liberaram o espaço para a passagem de carros.
“Nos anos 30, a chegada do automóvel começou a mudar tudo e, em 1950, o conflito entre carro e pedestre estava totalmente instalado”, afirma Herenú à Folha.
Nas décadas seguintes, o local foi palco de grandes eventos. Em 1984, recebeu comício histórico das Diretas Já.
PROBLEMAS ATUAIS
Após se transformar de parque em passagem de carros e palco de protestos, o vale do Anhangabaú ganhou os contornos atuais no início da década de 1990.
Uma laje foi construída sobre dois túneis. Um buraco, onde deveria haver um café, com escadarias, cortou o caminho das pessoas que atravessam o vale pela São João.
Agora, a nova reforma proposta divide arquitetos. Enquanto alguns dizem que ela pode induzir mudanças na região, críticos chegaram a chamá-la de “perfumaria” diante dos problemas do centro.
“É absurdo um espelho-d’água numa cidade que não consegue manter nem uma cascatinha”, disse em janeiro uma das autoras do projeto dos anos 90, Rosa Kliass.
Herenú elogia o fato de o vale estar no centro do debate, mas defende obras menores e graduais para testar a aceitação dos frequentadores.
* Com informações do jornal Folha de São Paulo