Jilmar Tatto diz que não vai rever trajeto de ciclovia em Santo Amaro

O Ministério Público vai investigar se há irregularidades em uma ciclovia da zona sul de São Paulo implantada fora do trajeto original e que, por causa dessa mudança, deixou de passar em frente a cinco imóveis da família do secretário de Transportes da gestão Fernando Haddad (PT).

Reportagem do jornal Folha de São Paulo desta sexta-feira (18/9) revelou que a prefeitura ignorou um projeto feito por uma empresa contratada pelo próprio município e, no ano passado, abriu uma faixa exclusiva para bicicletas repleta de desvios e remendos duas quadras abaixo do traçado original.

O novo desenho desviou a rota de imóveis da família do secretário Jilmar Tatto, que acumula o cargo de presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), órgão responsável pela implantação das ciclovias na cidade.

A reportagem servirá de base para a Promotoria do Patrimônio Público e Social investigar o traçado adotado e os custos para a implantação.

O Ministério Público também encaminhou ofícios com pedidos de informação para CET, SPTrans (São Paulo Transporte) e TCM (Tribunal de Contas do Município).

Para o presidente da seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcos da Costa, há indícios de irregularidades nessa ciclovia porque a prefeitura fez um novo estudo sem a participação da população.

“Tudo isso deve ser investigado. Houve alguma razão para a mudança do traçado e, se foi beneficiar a família do secretário, é inadmissível.”

Para ele, a medida viola princípios básicos que devem nortear a administração pública. “O prefeito adotou medidas que alteram a decisão do cidadão sem ouvir a população. Precisa apurar, ouvir o secretário para avaliar se isso se deu para beneficiá-lo.”

Já Haddad negou que a mudança tenha ocorrido para favorecer a família do secretário. “A CET é que toma esse tipo de decisão. Jamais uma decisão como essa seria de natureza política”, disse.

Também nesta sexta, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Tatto afirmou que não interfere nos locais por onde as ciclovias passam, porque, segundo ele, é uma decisão técnica da CET. Disse, ainda, que não pretende alterar o trajeto da faixa.

“Eu só coordeno o trabalho. Eles não me perguntam onde pode e onde não pode construir”, disse. “Nunca conversei com meus familiares sobre o assunto”, completou.
Tatto disse ainda que não interferiu sobre o traçado da ciclovia que passa em frente ao prédio onde mora. “Eu também não fui consultado pelos técnicos para instalar lá.”

‘DESRESPEITO’

Líder da oposição na Câmara, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) disse que a prefeitura deve fazer um melhor planejamento para as ciclovias, para não causar suspeitas de irregularidades. “As ciclovias foram feitas de forma errada. Se não beneficia, dá a sensação de que sim, porque não houve planejamento.”

Para o também vereador Gilberto Natalini (PV), a nova ciclovia, na rua Alexandre Dumas, é um desrespeito aos comerciantes do local.

“A implantação dessa ciclovia para proteger esses imóveis [da família do secretário] é um desrespeito a quem foi prejudicado.”

Fonte: Folha de São Paulo

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