O Jornal Nacional da TV Globo traçou retrato da mobilidade em cinco metrópoles: problemas e também soluções que deveriam estar funcionando desde a Copa do Mundo.
O Jornal Nacional traçou um retrato instantâneo da mobilidade urbana em cinco metrópoles: os problemas enfrentados por quem depende do transporte público e também soluções que deveriam estar funcionando desde a Copa do Mundo, mas ainda não estão prontas.
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A equipe de reportagem pegou o trem da CPTM na estação Calmon Viana, em Poá, a 40 quilômetros do centro de São Paulo. Ainda era de madrugada e, após duas estações, já não havia mais espaço.
“A gente tem que aguentar porque precisamos trabalhar. O trem também precisava melhorar”, avalia a auxiliar de higiene hospitalar Eliane Mesquita.
O trem é de 1965 e foi reformado em 2006. A CPTM diz que está investindo em novos trens e em uma nova rede elétrica para diminuir falhas, mas quem usa ainda não viu melhora.
“Eu até fiquei com a esperança de que ia mudar alguma coisa por causa das manifestações de 2013, mas infelizmente não mudou nada”, lamenta o auxiliar de enfermagem Renan Quadros Oliveira.
No Rio, a primeira viagem do dia no ônibus do BRT já não é pra qualquer um. “Só os fortes sobrevivem”, diz um passageiro.
O sistema de corredores exclusivos foi criado para dar transporte rápido. Mas os 315 ônibus não conseguem atender os 400 mil passageiros diários nas Zonas Norte e Oeste.
A superlotação vai fazendo vítimas. “A porta fechou com o meu pé dentro”, conta uma passageira.
A equipe do Jornal Nacional viajou em um ônibus abarrotado, com a porta ainda aberta, esperando mais passageiros.
A Secretaria de Transportes do Rio disse que mais ônibus serão colocados quando forem inaugurados novos corredores expressos.
Outro problema é a falta de manutenção nas pistas, que não têm nem três anos de uso.
Em um trecho bastante danificado, é possível encontrar pedaços de asfalto pelo caminho. O asfalto se solta, só de puxar com a mão.
A Secretaria de Obras do município deu prazo de 15 dias para o conserto.
“Se não tomar bastante cuidado, bastante precaução pode acontecer acidente sim”, afirma o motorista André Soares.
Choveu forte em Belo Horizonte nesta segunda-feira (23) e o terminal do BRT, chamado de Move, ficou cheio d’água. Um ano depois do começo da operação, ainda há obras pelo caminho e bueiros abertos. Nos pontos, muitas portas com defeito.
“É porta caída, que às vezes fecha na gente”, conta um passageiro.
Boa parte dos estragos é provocada por vandalismo.
Os ônibus do sistema Move se deslocam rapidamente nas pistas exclusivas. O engarrafamento fica para as pistas laterais. A reclamação dos passageiros está principalmente nas estações, na superlotação dos ônibus.
“Aqui é milagre se chegar e sentar. Ninguém dá lugar para mais velho nem nada não”, afirma a costureira Djanira Oliveira.
Em algumas avenidas, o tempo de deslocamento do Move caiu pela metade. Mas alguns passageiros reclamam que antes pegavam um ônibus de casa até o trabalho. E agora, precisam de três para fazer o mesmo percurso. Esse é um problema também de quem utiliza o Move Metropolitano, que chegou a algumas cidades da Grande Belo Horizonte no fim de 2014.
A Prefeitura de Belo Horizonte declarou que os defeitos estão sendo consertados. E o governo do estado disse que está fazendo um estudo para corrigir os problemas.
Enquanto a solução não chega, dona Maria Helena é obrigada a acordar de madrugada para ir trabalhar. “Eu saio mais cedo de casa e chego mais tarde”, ela diz.
Às 6h, nossa equipe começa outra jornada em Valparaíso de Goiás, cidade que fica a 44 quilômetros da rodoviária de Brasília. Foram 25 minutos até a equipe conseguir pegar o ônibus, que estava completamente lotado, com gente colada ao motorista.
São 2,4 milhões de passageiros por mês, que saem de cidades ao sul do Distrito Federal para trabalhar e estudar em Brasília.
O trânsito é lento e faz muito calor. Para piorar, a escotilha não abre direito. Os adultos sofrem. Imagina um recém-nascido.
Ana Maria liga para o patrão e avisa: “Eu vou chegar atrasada”.
Após duas horas e cinco minutos de viagem, chegamos finalmente à rodoviária de Brasília.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres disse que os ônibus disponíveis para as cidades goianas são suficientes.
No Recife, um terminal do sistema BRT está abandonado. Ele faz parte do corredor Leste Oeste que vai até a cidade de Camaragibe e deveria estar pronto antes da Copa. Só metade das estações está funcionando.
No outro corredor da região metropolitana, o Norte-Sul, que liga a capital à cidade de Igarassu, uma estação novinha que também deveria estar funcionando desde a Copa está fechada.
Os ônibus mais confortáveis não podem parar. Do outro lado da rua, os passageiros esperam ônibus superlotados.
Os ônibus do sistema BRT atravessam Olinda, a terceira maior cidade de Pernambuco, de ponta a ponta. O problema é que os passageiros não podem embarcar nem desembarcar na maioria das paradas. É que apenas três, das nove estações do município estão funcionando.
“É horrível, eles passam e não param”, conta a doméstica Libânia Lima.
Cento e oitenta mil passageiros deveriam utilizar o BRT todos os dias no corredor Norte-Sul, mas apenas 25 mil conseguem embarcar. O governo do estado diz que a demora aconteceu por causa da necessidade de desapropriação de terrenos e da existência de gasodutos e linhas de distribuição de energia no caminho.
“Até o final de maio, nós teremos a espinha dorsal do corredor Norte-Sul finalizada, com 26 estações e com outras obras complementares que poderão ficar para depois”, afirma o secretário executivo de mobilidade urbana Marcelo Bruto.
Créditos: Jornal Nacional