Pelo menos cinco trens do Metrô de São Paulo foram retirados de operação para servir de “estoque” de peças de reposição para outros trens da companhia do governo paulista.
A reportagem da Folha de São Paulo teve acesso a uma série de fotos dessas composições paradas no pátio de manutenção e estacionamento de Itaquera, na zona leste da cidade, onde trabalhadores “canibalizam” esses trens em ritmo praticamente diário.
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Itens essenciais, como vidros de janelas e portas, fechaduras, lâmpadas, faróis, bancos de passageiros e painéis de console já foram retirados e recolocados nos trens em operação na capital. A companhia tem 155 trens, que operam em quatro linhas, em situação de superlotação nos horários de pico – são 4,7 milhões de passageiros todos os dias.
Na visão dos metroviários, esse sistema de manutenção que deixa os vagões “depenados” ocorre porque, com o congelamento da verba repassada pelo governo do Estado ao Metrô, a empresa tem economizado na aquisição de novas peças de reposição.
O sindicato da categoria diz ainda que outros seis trens estão em situação similar, mas parados em outros dois pátios de manutenção.
A Folha de São Paulo revelou na semana passada, que a gestão Geraldo Alckmin deu um calote de R$ 66 milhões na companhia em 2015. Esse dinheiro seria usado para cobrir os custos das gratuidades concedidas pelo governo a desempregados, idosos com mais de 60 anos e passageiros com deficiência, além de subsídios aos estudantes.
Sem receber recursos devidos pelo Estado, o Metrô se vê forçado a abrir mão de investimentos e a cortar custos em outras áreas de operação para arcar com uma obrigação que deveria ser do governo.
Tais problemas provavelmente continuarão a acontecer ao longo deste ano, pois Alckmin já informou ao Metrô que haverá novo contingenciamento de recursos.
“Além dos problemas com a falta de repasse das gratuidades, foram milhões de reais gastos com diversos trens novos que estão parados na linha 5-lilás e na linha 15-prata [monotrilho]. Enquanto isso, faltam mais de 3.000 itens de reposição no almoxarifado, deixando trens sem condições”, afirma Alex Rodrigues, secretário-geral do sindicato dos metroviários.
No caso dos cinco “trens fantasmas”, que já haviam sido modernizados ou pertenciam às linhas novas da frota, eles ficam estacionados no exterior do pátio, em área energizada, ao lado de uma placa que informa sobre o risco de morte naquele local.
Segundo funcionários da companhia, a retirada de equipamentos desses trens, inclusive da parte mecânica, tem sido mais frequente desde o início deste ano.
“Infelizmente esse está sendo o nosso almoxarifado”, afirma um empregado do Metrô que atua na manutenção e preferiu não se identificar. Uma comissão interna tem questionado se a segurança dos trabalhadores está em risco nesse local.
O estoque de alguns dos itens dessas cinco composições que estão paradas em Itaquera já estaria limitado: faltam portas, e as lâmpadas estão perto do fim.
EMPRESA ALEGA MANUTENÇÃO
A reportagem da Folha de São Paulo questionou o Metrô sobre a situação específica de cada um dos cinco trens atualmente estacionados no pátio de manutenção da empresa em Itaquera, informando seu número e a frota a que pertencem.
A companhia afirmou que todos eles estão passando por manutenção corretiva, e que as operações não são de forma alguma afetadas pelo fato de esses cinco trens não estarem prestando serviços atualmente.
“Os cinco trens citados pela reportagem estão passando por uma manutenção periódica e encontram-se dentro da reserva técnica de 10% da frota para a operação do sistema”, diz o Metrô.
O Metrô tem atualmente uma frota total de 155 trens, que circulam nas quatro linhas operadas diretamente pela companhia. Assim, podem ficar nessa reserva técnica 15 trens. A linha 4-amarela, operada pela ViaQuatro, tem outros 14 trens.
O Metrô informa ainda que “as atividades de manutenção em todo o sistema operacional acompanham rígidos padrões de qualidade, adotados internacionalmente”. Por fim, a estatal afirma que o “Sindicato dos Metroviários manipula e divulga de maneira leviana informações técnicas que nada interferem na operação do sistema, tampouco na segurança dos usuários”.
Não foram fornecidas, no entanto, respostas específicas sobre a situação de cada um dos trens, conforme solicitado pela reportagem da Folha de São Paulo, tampouco foi informado o prazo em que essas composições voltarão a funcionar no sistema metropolitano de trilhos. O Metrô é usado diariamente por 4,7 milhões de pessoas.
* As informações são do jornal Folha de São Paulo